Séries & TV

Crítica: The Mist (Spike/Netflix) - 1ª temporada possui boa fotografia, mas roteiro não agrada

Mais uma vez, uma obra de Stephen King é adaptada para a TV. E, mais uma vez, a adaptação não conseguiu agradar.



Medo. O mais natural dos sentimentos. Ainda que inconsequentemente, o medo nos muda. Nos revela. Nos liberta ou nos condena.  Stephen King consegue usar muito bem esse sentimento puro da psiquê humana em suas obras literárias que é difícil lidar com uma muito notável perda de qualidade na adaptação das "letrinhas" para as "telinhas". Depois de Under The Dome, veio The Mist, produzido pelo canal americano Spike e distribuido no Brasil pela Netflix como O Nevoeiro.


Eu me pergunto quem escolheu o elenco, porque essa pessoa tá de parabéns, já que escolheu um elenco onde somente um ou outro realmente atua e o resto aparece apenas falar o que estava no roteiro, principalmente Alyssa Sutherland. Sua personagem Eve Copeland, ao longo dos 10 episódios, foi a que mais foi submetida a situações que deixariam qualquer um abalado emocionalmente e, na grande maioria, pareceu inerte, com uma expressão facial vazia.

O principal drama: Eve (Alyssa Sutherland, à direita), Alex (Gus Birney),
um shopping contra elas e atuações pouco inspiradas

Quem merece palmas é Francis Corroy, a Natalie. Em todos os episódios, ela se mostrou capaz de expressar-se de maneira envolvente, embora sua personagem tenha sido vítima do próprio roteiro, passando de uma senhora emocional e ideologicamente abalada a uma espécie de "mensageira" do próprio nevoeiro.

Embora as atuações gerais deram um salto de qualidade na reta final dessa temporada, ainda está longe do ideal. Não parece existir química entre os atores, diferente de Under The Dome que, embora também não seja lá essas coisas de adaptação, era visível o esforço. Eles até tentam implementar alguns plot twists na tentativa de fazer acontecer, mas o tiro parece sempre sair pela culatra.

Embora não seja necessariamente o foco da produção, o roteiro torna-se "bipolar" ao tentar dar uma explicação à origem do nevoeiro, como ele funciona, o porquê dele estar em Bridgeville, entre outros pontos. A única que se interessa pela névoa, no porquê dela estar aqui, é a Natalie, que meio que enlouquece na segunda metade, como se fosse uma profeta do nevoeiro, como disse anteriormente.

Paralelo a isso, temos o backstory de Bryan Hunt (Okezie Morro), um membro de uma unidade do Exército chamada "Arrowhead" (Ponta de Flecha na versão dublada), mas isso é pouco aprofundado, não só porque Bryan não se lembra de nada, mas porque o roteiro apresenta erros de continuidade e lógica. Por exemplo, colocaram uma cena do Bryan no Exército fazendo alguma coisa porque era conveniente, mas não explicaram o porquê daquilo, só largaram lá e pronto. Embora pouco frequente, isso é muito irritante, a meu ver.

No meio desse caos, existem coisas que se salvam. A começar pela principal diferença entre o livro e a série, que é a dispersão do elenco. Ao invés de termos um único local enfocado, como no livro, temos três núcleos de elenco dispersos ao longo da cidade, o que deu a chance de aprofundar cada personagem até a unificação dos sobreviventes no shopping no episódio final. Isso deu certo.

Outro ponto positivo foi a fotografia e os efeitos especiais. Retratar um ambiente desolado, saqueado, com corpos espalhadas por aí foi muito bem feita. A sensação de perigo e solidão são muito bem transmitidas. Os efeitos especiais usados na morte dos personagens (porque morre muita gente mesmo) são deveras simples, porém bem feitos

E eles fazem questão de mostrar isso
A tentativa do canal Spike de transcender uma obra do "titio King" em série é louvável, porém falha. Ainda que não saibamos os índices de audiência, vejo uma segunda temporada como algo "improvável", mas necessária, até porque o cliffhanger deixado promete explicar sobre o nevoeiro.

Se eu recomendo ou não o seriado, pense nisso como se fosse Lost (ABC). O foco não está em explicar como A Ilha/O Nevoeiro funciona, ou o porquê dos passageiros do voo 815/cidadãos de Bridgeville terem sido as "vítimas" de seus respectivos incidentes, mas como o grupo se comporta, geral e individualmente, nessas situações onde o futuro é incerto e ajuda externa pode nunca vir. Se você não assistir com esse pensamento, você pode se frustar feio com a série.


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