Séries & TV

Crítica - Zoey's Extraordinary Playlist - 1ª Temporada

E se você lesse o pensamento das pessoas como números musicais?


Imagine a seguinte situação: você foi fazer uma tomografia de rotina. Para disfarçar o barulho emitido pelo equipamento, o médico coloca uma música não muito calma. Do nada, um tremor acontece na cidade, causando um momento de instabilidade no computador e na máquina, fazendo com que seu cérebro assimile todos os gêneros existentes e você consiga “ver” os sentimentos das outras pessoas como se fossem números musicais. Agora você, como uma mistura de X-Men com The Voice, tem o dever de interpretar e ajudar as pessoas que estão “cantando” para você, não só pelo bem da própria pessoa, como seu próprio, nem que, para isso, alguns limites pessoais sejam bastante transgredidos. Sejam bem-vindos a Zoey’s Extraordinary Playlist

I've Got The Music In Me

Por se tratar de uma série musical, obviamente as músicas e as performances seriam um dos pontos da série que teriam maior atenção da equipe e é fácil perceber como toda a produção, desde os roteiristas, passando por coreógrafos e atores, até a direção e montagem das cenas, se empenhou para que cada apresentação fosse única. 

Embora nem todas as músicas sejam cantadas em sua totalidade, a tracklist desta primeira temporada se mostra bem diversificada e consegue facilmente representar o emocional de determinado personagem no presente momento. Os atores se entregam inteiramente às canções, o que me faz esquecer que alguns deles não possuem experiência com música, vide Lauren Graham/Joan e a própria Jane Levy/Zoey. 

As performances quase sempre são filmadas sem cortes ou com pequena quantidade. As coreografias vão do íntimo ao exagerado e são vivas, conseguindo facilmente expressar aquilo que a produção deseja transmitir e, em muitas vezes, utilizando o cenário a seu favor, passeando por ele enquanto a câmera o segue para deixar os atores sempre centralizados. 

O aspecto fantasioso de que as músicas e danças estão acontecendo apenas para a Zoey também é bem utilizado pela equipe de produção da série, já que certas apresentações são montadas para mostrar o contraste entre aquilo que a protagonista (e nós como espectadores) está vendo e aquilo que realmente está acontecendo na cena:


Um detalhe que bastante aprecio no roteiro geral da temporada é como ele dedica um espaço suficiente de si praticamente todo episódio para dar novos detalhes, tanto ao espectador, como aos personagens, sobre como o “poder” da Zoey funciona. Embora ainda seja apenas um recurso usado para fazer a história andar, o fato de que o roteiro procura dar motivos justificáveis os suficiente para as canções acontecerem, para o porquê da Zoey não poder simplesmente ignorar as canções, se existem diferenças entre o que as performances e as cenas de verdade mostra o nível de atenção aos detalhes dos roteirias.

Em sua essência, Zoey's é uma dramédia musical, mas seu lado cômico é o mais falho. Embora a boa intenção de tirar o riso daquele que assiste, somente algumas situações são bem-sucedidas nesse quesito, tornando a grande quantidade de tentativas que o roteiro faz algo forçado. 

Esse dia aí foi louco...

True Colors

A trama da família da Zoey em relação a seu pai é um dos alicerces que sustentam a série. Desde o primeiro episódio, temos uma noção bem definida de seu estado devido à Paralisia Supranuclear Progressiva, uma rara doença sem tratamento que promove rigidez muscular e gradativamente afeta regiões do cérebro responsáveis por funções básicas à vida. 

A sutileza do roteiro em tratar o tema de morte iminente e como isso afeta a dinâmica familiar, aliada à experiência de Pete Gallagher como ator e cantor, cumpre com louvores a missão de fazer com que o espectador se importe com o Mitch, torça para que, de alguma forma ele viva, assista, impotente, o caminho rumo ao inevitável, já que era uma tragédia anunciada, e sinta o impacto emocional, não só quando ele acontece, mas também dos pequenos momentos íntimos:


Por falar na própria, Zoey Clarke começa a série de maneira mais estereotipada, passiva aos eventos dos episódios, mostrando um comportamento predominantemente otimista e insistente. Nuances de sua humanidade começam a aparecer somente na metade da temporada, junto com as discussões com familiares e amigos que ela própria começa e, dessa forma, ela ganha mais “vida”, fôlego e, de certa forma, presença na trama. 

Não sei o motivo para o qual eles mantiveram a personagem, de certa forma, rasa, como se fosse apenas uma representação do espectador dentro daquele mundo, por meia temporada, mas agradeço pela mudança de dinâmica. O mesmo pode ser dito a todo o elenco principal e secundário. Embora tenham seus “rótulos” iniciais, seu desenvolvimento e relevância dentro da trama são crescentes e a maneira como os usa para explorar assuntos como luto, casamento, morte iminente, identidade, deficiência, relações de trabalho, amor, prazer, medo, entre outros, é funcional. 

I'm Yours

Musicais são um lugar comum para mim. Isso contribuiu significativamente para começar Zoey's Extraordinary Playlist. Mas foi a ousadia da equipe em fazer cada performance única, junto a um roteiro que, embora ainda sofre para achar seu tom cômico, mostrou um viés dramático competente que me fizeram continuar. Mesmo com a baixa audiência da série para os padrões do canal NBC, graças à recepção positiva de público e crítica, felizmente, a segunda temporada virá.

E vamos de repetir a playlist até a segunda temporada chegar

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