Séries & TV

Crítica: The Flash - 9ª Temporada

Além de encerrar as aventuras do Velocista Escarlate, 9º ano também encerra, ainda que não oficialmente, o Arrowverse.


Seu nome é Barry Allen. Ele é o homem mais rápido vivo. Para o mundo externo, ele já foi um ordinário investigador forense da Polícia de Central City. Mas desde que ele foi atingido por um raio após a explosão do acelerador de partículas dos Laboratórios STAR, ele se tornou algo impossível, o mesmo tipo de impossível que matou sua mãe quando criança. E 184 episódios depois, é chegada a hora da despedida. Bem-vindos à última temporada de The Flash da CW.

A Morte Veste Vermelho (e lhe causa indiferença)

Ao invés de dar continuidade ao gancho do final da 8ª temporada, que mostrava um cristal azul em um laboratório localizado no ano de 2049, que indicava que a Força de Aceleração Negativa ainda estava à solta pelo tempo-espaço contínuo, procurando seu novo avatar, já que o Flash Reverso, o dr. Eobard Thawne, finalmente fora apagado da existência, os roteiristas decidiram utilizar estes primeiros 5 episódios para contar uma história diferente.

O vilão a ser adaptado dessa vez foi Red Death, ou Morte Escarlate. Nas HQs, ele é retratado como uma versão do Batman da Terra -52 que, após uma carga adicional de trauma, decidiu forçar uma conexão com a Força de Aceleração para que, enfim, cumprisse sua visão de justiça e pudesse estar em todos os lugares ao mesmo tempo. 


Aqui na série, a principal modificação do personagem foi a troca do Bruce Wayne por uma versão alternativa da Batwoman Ryan Wilder que ficou presa na Terra-Prime após a Crise nas Infinitas Terras. Seus principais objetivos continuam consistentes com sua versão dos quadrinhos, com apenas o diferencial de envolver outros vilões do Flash em seus planos como Capitão Bumerangue, Gorila Grodd e Murmúrio. 

A mudança de paradigma teria sido bem-vinda se houvesse um esforço, ainda que mínimo, para convencer o espectador de que ela era uma ameaça, o que, definitivamente, não foi o caso. Em nenhum momento eu me interessei pela Red Death. 


Ela nunca me pareceu ser uma grande ameaça, mesmo quando o roteiro tentava me convencer disso, seja através dos discursos e feitos que a própria vilã incansavelmente repetia (primeira regra do audiovisual: mostre, não fale), seja através dos mecanismos do próprio roteiro, não para engrandecer Red Death, mas para diminuir o Flash ao ponto de precisar do Time Flash para isso, um erro que a produção adora repetir ao invés de aprender.

Além disso, nesse conjunto de episódios, surgiu Khione (Danielle Panabaker), fruto das tentativas de Mark e Caitlin em reviver Nevasca. E seu principal traço de personalidade é servir de impasse entre Mark e Barry, porque, ao menos nesse início de temporada, ela nunca pareceu ser uma personagem de verdade. Pior: teoricamente, a existência da Khione indica que, tecnicamente, a Caitlin morreu! E ninguém mostra qualquer reação quanto ao fato de que uma amiga de quase uma década simplesmente morreu. Mais um movimento do nosso excelentíssimo showrunner Eric Wallace.


Um meio desperdiçado (menos um episódio que se salvou)

Com uma temporada de 13 episódios, eu tinha esperança de que não haveriam fillers, aqueles episódios desnecessários que nada avançam na trama. Mas ainda assim Eric Wallace, o showrunner da série desde a 6ª temporada, conseguiu inserir, não só um, mas 4 episódios fillers: dois focados em personagens secundários onde nada de interessante é acrescido à história e tradicional "episódio em que o elenco está preso em uma só locação (duas no máximo) porque temos que economizar no orçamento para os episódios futuros". Eu me recuso a gastar mais uma linha falando deles porque nada neles se salva.

Por sorte (tá mais para milagre), o quarto episódio desse conjunto foi um verdadeiro deleite. Um último crossover entre Arrow e Flash que, ao apostar em uma premissa simples, fanservices pontuais e uma boa execução (o literal mínimo que se espera de uma última temporada), facilmente se destacou como o ponto alto da temporada até então. Os requisitos eram bem baixos para alcançar tal feito, é verdade, mas isso não tira o mérito do episódio. 


Entre a fotografia escura e "suja" de uma batalha bem coreografada que lembrou os anos de ouro da série do Arqueiro Verde, o jogo mental ao qual o vilão Hemoglobina submeteu Barry e Wally (sim, o Wally voltou!), colocando ambos os velocistas em combate, os reencontros e despedidas entre figuras que, há tanto tempo, não apareciam em cena (oi, Oliver!) e o ótimo trabalho de Danielle Panabaker (Caitlin/Nevasca/Khion) na direção...

É quase impossível não sair desse episódio sem esboçar um sorriso no rosto e questionamentos sobre como a premissa e as ideias que foram apresentadas não foram expandidas para mais dois ou três capítulos. Embora a estrutura de um episódio "vilão da semana" foi fundamental para a boa performance do episódio, é notável que havia espaço para mais, o que seria algo imediatamente melhor do que a primeira parte da temporada que foi entregue ao público.

Um Novo Mundo 

A Força de Aceleração Negativa. A fonte de poder do Flash Reverso. O que antes foi estabelecido como uma criação do Dr. Eobard Thawne foi retrabalhado após a Crise nas Infinitas Terras como uma força da natureza que escolhe seu portador, seu representante, seu avatar para se opor ao Velocista Escarlate e manter o equilíbrio. Mas, dessa vez, ela cansou do equilíbrio e deseja vingança, a dominação, a eliminação de toda a existência, de todo o espaço-tempo contínuo que conhecemos, de todo o legado do Flash, sua família, seus amigos e aliados.

Após viajar pelas eras, possuir a consciência das pessoas mais próximas a Barry, fazê-lo voltar ao passado para reviver a noite do assassinato de sua mãe, dessa vez como o salvador de si próprio, e lutar com a própria filha no futuro enquanto Iris dava a luz a ela, o cristal retornou ao seu derradeiro dono: Eddie Thawne, que se sacrificou na 1ª temporada para impedir, em vão, o Flash Reverso e depois foi engolido pela singularidade que, originalmente, abriu o véu entre os múltiplos universos. 

Vivendo uma vida que não era sua, em uma fatídica noite, a fonte de poder que o trouxe de volta lhe concedeu o poder da velocidade, o fez questionar tudo aquilo que ele acreditava ser real e, por fim, o fez acreditar de que, ao derrotar o Flash em definitivo, ele finalmente seria o herói que ele acreditava ser e por fim teria a vida que ele acreditava ter lhe sido tirada pelo Barry.
O que eu acabei de descrever foi o arco "Um Novo Mundo", um especial de 4 partes que serviu como finalização do seriado. É possível que, ao ler isso, você tenha a impressão de que, ou a produção deveria ter contado essa história desde o início da temporada para melhor explorar essa linha narrativa, ou a impressão de que, mesmo com um vilão de última hora, a produção conseguiu uma forma decente de finalizar a série. Errado e errado.

Dos 4 episódios finais, só um foi bom.
E não foi o series finale.

Embora estivesse claro de que essa ideia não seria totalmente explorada em apenas 4 episódios, ainda era possível contar uma boa história, mas Eric Wallace sempre tem a capacidade de surpreender negativamente. Ao insistir na ideia falha de dar importância para todo o elenco, o foco desses capítulos esteve disperso e, novamente, a sensação de desperdício de tempo estava presente. Nem o próprio Eddie, o suposto co-protagonista deste arco, recebeu tempo de tela suficiente para ser devidamente explorado e a montagem dos episódios fez com que suas cenas pareciam estar simplesmente jogadas.

E nem mesmo o episódio final se salva disso. 
Ao fazer um movimento parecido com o de Homem Aranha: Sem Volta para Casa para ser o derradeiro desafio do Time Flash, o roteiro opta por enfraquecer todos os "novos jogadores" para que eles fossem facilmente derrotados pelos membros não-velocistas da equipe. Chega até a ser ridículo como alguns foram derrotados. E a própria ameaça que o vilão Azul Cobalto deveria ser para carregar um fim de saga nunca chega a se concretizar pelo desperdício dos episódios passados. Ele é só mais um que, por acaso, foi o último. Nada mais. Uma total e lamentável quebra de expectativas que já estavam muito pequenas.

Linha de Chegada?


The Flash encerra sua nona e última temporada com os mesmos erros cometidos nos últimos 5 anos. Seu suposto personagem título, várias vezes, foi renegado à posição de coadjuvante das aventuras dos outros. O tempo de tela que, em teoria, sobrou para os outros personagens que não se chamam Iris foi desperdiçado com arcos nem um pouco criativos. 

Eu ainda não entendi a necessidade de criar a Khione para substituir a Caitlin e a Nevasca justamente no ano final. Também não entendi porque o Mark foi promovido ao elenco regular sendo ele tão esquecível e que em quase nada contribuiu para a temporada. Allegra e Chuck não ofereceram nada de especial. E nem me façam falar de Cecile e como o roteiro utilizou cada oportunidade que teve para fazê-la tão poderosa quanto o Barry. Talvez até mais que ele. 

Chega dá um desgosto ver que esse, não só foi o fim de uma série tão querida por mim desde os meus 15 anos, mas o fim de um universo compartilhado que, mesmo com tantos pontos baixos e um orçamento ridículo, conseguiu entregar certa consistência com ideias interessantes que, quando bem executadas, conseguia atrair atenção para si. Ouso até dizer que o Arrowverso conseguiu ser mais coeso, mais organizado e até mais divertido de se acompanhar do que o DCEU durante os anos 2010.


Não existe nada mais a dizer a não ser adeus. Adeus Barry Allen e Time Flash. Adeus Arrowverso. Obrigado pelos bons momentos, mas, sinceramente, vocês deviam ter encerrado na Crise das Infinitas Terras. Teria sido bem melhor.

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