Mas aí veio a segunda temporada — e junto com ela, o pandemônio nas redes sociais.
Se na primeira o público aplaudiu a fidelidade, na segunda começou a divisão: "fiel demais" para uns, "inventou demais" para outros. E o motivo? A adaptação do controverso The Last of Us Part II (2020), que já chegou no mundo dos games causando racha na fanbase.
A Narrativa da Segunda Temporada: Ousadia, Trauma e Vingança
A segunda temporada adapta (parcialmente) os eventos do segundo jogo. E sim, ela manteve o plot twist que fez muita gente quebrar controle e desinstalar o jogo: a morte do Joel nas mãos de Abby.
A série manteve esse ponto crucial, mas trabalhou com mais desenvolvimento prévio. Flashbacks, diálogos e cenas inéditas deram mais tempo de tela ao Joel (Pedro Pascal) e à relação dele com Ellie (Bella Ramsey), talvez para amenizar o impacto que, no jogo, foi simplesmente brutal e repentino.
Outro ponto que a série trouxe com mais cuidado foi o desenvolvimento da Abby (ainda mais aprofundado que no jogo) e o grupo dos Lobos (WLF). Isso, claro, reacendeu o ódio gratuito nas redes, especialmente de quem nunca superou que “o Joel morreu” e que “jogo bom não mata protagonista”.
Comparando com os Jogos: O que Mudou?
O que ficou igual:
- A morte do Joel, no episódio 2, permanece e é ponto-chave.
- A divisão da história entre o ponto de vista da Ellie e da Abby se mantém.
- A abordagem sobre os ciclos de vingança, trauma e desumanização segue central.
- Algumas cenas icônicas foram recriadas quadro a quadro.
O que mudou (e gerou polêmica):
- Mais desenvolvimento do Joel e da Abby antes dos eventos principais. A série tentou construir mais empatia pelos dois lados.
- Reordenação de eventos. Alguns flashbacks que no jogo vinham mais tarde foram antecipados.
- Menor foco em combate. Obviamente, a série não é um stealth simulator. A violência existe, mas tem menos foco do que no jogo.
- Ampliação de personagens secundários. Dina, Jesse, Lev e Yara têm mais espaço, bem como o próprio grupo dos Serafitas (os "cicatrizes").
- Adaptação do pacing. A HBO dividiu o arco do segundo jogo em duas temporadas (confirmado). Portanto, a 2ª temporada cobre aproximadamente metade do jogo.
As Polêmicas: Fãs, Haters e Choques Culturais
A Morte do Joel:
Foi polêmica no jogo, e continua na série. Por mais que a série tenha tentado dar mais peso emocional, muita gente ainda não aceita que o personagem mais querido da franquia morre tão cedo.
"Forçaram a Abby":
Parte do público acusa a série de "forçar empatia" com a Abby. Na verdade, ela sempre foi escrita para ser complexa — tanto no jogo quanto na série. A diferença é que o público muitas vezes não quer ser convidado a entender quem matou seu personagem favorito.
"Agenda Progressista":
Esse é o discurso clássico de uma ala conservadora da internet. Reclamações sobre diversidade, representatividade e personagens LGBTQ+ (como Ellie, Dina, Lev) seguem a cartilha dos haters que já estavam irritados desde o jogo. Nada novo, só mais alto.
Mudanças Narrativas:
Alguns fãs puristas queriam uma cópia 1:1 do jogo. Outros reclamaram que a série enrolou demais, com foco excessivo em desenvolvimento emocional, deixando a ação em segundo plano.
Acerto ou Erro?
A série fez o que qualquer adaptação de verdade precisa fazer: ser fiel à essência, não necessariamente à forma.
O jogo The Last of Us Part II sempre foi uma obra desconfortável. Não é sobre vingança épica, nem sobre ser "badass". É sobre as cicatrizes que o trauma deixa, sobre como o ódio desumaniza, e como a violência nunca fecha ciclos — só abre novos.
A série conseguiu traduzir isso muito bem. As mudanças são, na maioria, bem-vindas e até necessárias para quem não está segurando um controle na mão, mas sim assistindo passivamente.
Conclusão: Coragem Não é para Todos
A HBO e os showrunners Craig Mazin e Neil Druckmann (sim, o próprio criador dos jogos) sabiam exatamente a encrenca que estavam se metendo. E foram mesmo assim.
Fizeram uma série que não pede desculpas por ser desconfortável, que não entrega fanservice fácil e que escolheu continuar sendo uma reflexão amarga sobre humanidade, amor, perda e vingança.
Se você queria só mais zumbis e tiroteio, sinto dizer: The Walking Dead ainda tá por aí (ou suas 18 derivadas).