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Crítica: Boy's Love: A última troca de Inês Montenegro

Lobisomem é personagem central na história de Eduardo e Rafael


Para promover o amor em suas diferentes formas, a Editora Draco lançou a coletânea de contos Boy's Love, que já possui três edições. Os contos possuem temáticas diferentes, passando de sobrenatural (como o conto já resenhado aqui no GeekBlast, Flor de Ameixeira) até mesmo suspense, como é o caso de A Última Troca.

A trama gira em torno de Eduardo, um jovem rapaz que sofre bullying na escola por ter trejeitos afeminados e por ser homossexual. Os opressores da sala de aula, liderados por Chico, empenham-se em tornar o cotidiano do garoto um inferno: roubam lanche, dinheiro e batem em Eduardo até machucá-lo.

Eduardo já está ciente de que os dias não terminarão. Acomodado e com medo de reagir, ele aceita os xingamentos e as agressões sem reclamar. Ninguém faz nada. Nem mesmo a professora que o olha atentamente e nutre um carinho especial pelo garoto. A felicidade do menino é a hora de ir para casa.

Certo dia, Eduardo repara em algo que nunca havia reparado nos últimos anos que fazia o curto trajeto da escola para a casa: um lindo cachorro branco com olhos dourados. Em poucos dias, o cão que parecia ser ameaçador e não parar de latir para Eduardo, tornou-se um amigo que o menino passou a reparar e a brincar.

Neste cenário quase rotineiro, a vida de Eduardo muda drasticamente quando dois acontecimentos o impactam: Chico, o chefe dos valentões, é encontrado morto. O corpo do menino está marcado com arranhões e em seu peito há marcas de patas e um extenso buraco. O coração de Chico fora arrancado e não foi encontrado pela polícia. No mesmo dia desta tragédia, um jovem mais velho que Eduardo aparece na mesma esquina onde antes estava o cachorro branco. Rafael. Ele se aproxima de Eduardo e sem meias palavras deixa claro para o menino o seu desejo carnal. Apesar de ainda não entender o motivo, Eduardo sente que já conhece Rafael e ao encarar os olhos dourados do moço, aceita que o mesmo vá até a sua casa de madrugada para se entregarem a paixão que os cerca.


Assim a história de A Última Troca como a se desenrolar.

Inês Montenegro tem uma ideia boa na mão, mas não a executa com maestria. As interações de Eduardo com Chico e os outros colegas da escola não são bem abordadas. A interferência da professora apenas ameaça a acontecer, mas não desenrola, deixando assim uma ponta solta. Outros elementos perturbam: Rafael é descrito como alguém, porém mais velho que Eduardo. A ilustração do conto induz o leitor a acreditar que Rafael já é maior de idade, enquanto Eduardo é descrito como um jovem de 14 anos (que mora sozinho e leva um rapaz para o seu quarto para ter relações sexuais após conhecê-lo no decorrer de, no máximo, uma semana). Desta forma, não fica clara a intenção da autora: seria um conto infanto-juvenil? Adulto? Não há clareza no enfoque.

Um erro gravíssimo na elaboração da edição foi manter a linguagem com português de Portugal. Em uma rápida pesquisa é possível notar que Montenegro não é brasileira. A forma como escreve também deixa claro isso. Por isso, há momentos que não fica claro o que a autora está descrevendo, causando um certo estranhamento ao leitor. E, mais uma vez, não deixando claro a quem se destina o conto, já que usa de muitos termos elaborados para ser infanto-juvenil.

Por se tratar de um conto presente em uma coletânea, talvez, o que falte para a história ficar boa é mais tempo para trabalhar os personagens e causar empatia com os leitores, além de explicar melhor a história e tornar o romance algo mais crível e real.

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