Quadrinhos

Crítica: Cavaleiro das Trevas III - A Raça Superior

Frank Miller encerra com violência trilogia iniciada em 1986

Uma das graphic novels mais importantes de todos os tempos, O Cavaleiro das Trevas não só elevou Frank Miller ao patamar de grandes nomes dos quadrinhos, junto a divindades como Alan Moore (Watchmen) e Chris Claremont (Saga da Fênix Negra), como estabeleceu o Batman como uma força imparável nos quadrinhos. Apesar do sucesso de Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um, trabalhos como O Retorno do Cavaleiro das Trevas e Grandes Astros: Batman & Robin colocaram em xeque a carreira Miller. O anúncio do último capítulo da trilogia foi recebido com ansiedade e desconfiança pelos leitores.


Depois de receber críticas pelo machismo apresentado em Grandes Astros, Miller iniciou a minissérie focado nas duas personagens femininas principais: Carrie Kelley, ex-Robin e atual Batgirl, e Lara-El, filha de Superman e Mulher Maravilha, criada entre as Amazonas, ambas carregando o legado de seus mentores, ausentes depois dos eventos de O Retorno do Cavaleiro das Trevas.

A trama deste terceiro capítulo circula em volta das duas jovens heroínas, que tentam lidar com seus poderes e responsabilidades de maneiras diferentes: Carrie, percebendo as consequências do estado violento deixado após o número anterior, prepara o terreno para o retorno do Batman, enquanto Lara tenta salvar, junto de Ray Palmer (o Átomo), os cidadãos de Kandor, procurando se encaixar em algum lugar da sociedade.
Carrie quebrando geral como "Batman"
Como sempre, o roteiro de Miller foca em diálogos chocantes e cenas violentas, além de comentários paralelos de noticiários, que apresentam celebridades como Donald Trump e Jon Stewart falando de crises políticas. A principal ameaça surge no papel de Quar, fanático religioso kriptoniano que manipula Lara e Átomo para escapar com seus seguidores de Kandor para (adivinha) dominar a Terra.

Talvez o grande problema de A Raça Superior seja sua crítica. Usando Quar e seus seguidores para falar de opressão às minorias e fanatismos religiosos, Miller apenas arranha a superfície e, sem argumentos ou conhecimento de causa, acaba dando apenas a violência exagerada e os discursos pomposos como resposta para qualquer conflito que apareça.
Quar e os kandorianos: grande ameaça foi uma crítica rasa
Apesar disso, o roteirista escapa dos erros do livro anterior da série: sem muita invenção, Miller amarra o roteiro com soluções simples, como planos tradicionais do Batman e aparições de diversos heróis como Flash, Lanterna Verde, Aquaman e o casal Gavião Negro e Mulher Gavião em histórias separadas e simultâneas, que não prejudicam o ritmo da história e adicionam à mitologia do universo criado há 30 anos.

Além dos nomes já citados, Superman e Mulher Maravilha (agora rainha de Temiscira) aparecem maiores do que nunca nas mãos de Miller, tendo que lidar com uma filha traidora e seus egos feridos pelo último encontro com o Homem Morcego.
Superman: maior do que nunca nas mãos de Frank Miller
Os quadros de ação com a arte de Andy Kubert são dignos de se emoldurar, passando por uma chuva de kryptonita sintética, uma batalha campal entre humanos e kandorianos e um ataque fulminante de um Superman que cansou de se segurar. Tudo transcorre naturalmente com um roteiro simples e dinâmico de um Miller que, apesar de não mais ser brilhante, ainda entrega um bom último capítulo para a mitologia de Cavaleiro das Trevas.

O epílogo, parte mais tocante da série, mostra os heróis da DC, aos poucos, retomando seu lugar nas ruas e o respeito dos cidadãos comuns, tão oprimidos ao longo dos nove números da revista. Sem superar o primeiro livro e ainda longe de sua grande forma, Frank Miller mostra, pelo menos, que ainda é um roteirista acima da média e encerra seu universo do Batman de uma maneira muito mais feliz do que se esperava quando cancelaram Grandes Astros.

Cavaleiro das Trevas III - A Raça Superior tem roteiro de Frank Miller e Brian Azarello e arte de Andy Kubert e já teve suas 9 edições lançadas pela DC nos Estados Unidos. No Brasil, a publicação e distribuição fica a cargo da Panini Comics. O último lançamento nacional foi o número 7, em abril.

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