Blast from the Past

Sobrevivendo ao jogo de matança de Danganronpa

Uma série pra quem gosta de mistério, suspense e... sangue rosa?

Acho que nem fazia poucos meses que havia terminado de acompanhar Mirai Nikki quando um amigo me sugeriu um compilado de outros animes no mesmo estilo: personagens envolvidos em um jogo de matança onde apenas um sobreviverá no final. Foi exatamente nessa fase de "animes de terror com sangue" que acabei conhecendo Danganronpa (ou Danganronpa: Trigger Happy Havoc como também é conhecido), achando que seria só mais uma história seinen repleta de violência envolvendo adolescentes com um final bem previsível: um mero engano de minha parte.


Pouco tempo depois acabei por saber que não se tratava apenas de um anime, mas sim, de uma franquia que se estendia também a jogos (tendo como principal gênero visual novel) e até mesmo livros (light novels para ser mais exato). Foi justamente devido ao sucesso dos jogos, produzidos pela Sony para PSP e PSVita, que este acabou ganhando um versão em anime no ano de 2013 com exatamente 13 episódios (sem dúvida o número da sorte para a equipe de produção). Danganronpa, em suma, é a junção das palavras inglesas que tem como significado "Disparo de Bala" e em diversos momentos ele utiliza essa metáfora quando argumentos levantados são derrubados no enredo, algo que acabou sendo uma marca registrada para a série.

Uma escola, quinze jovens e um diretor pra lá de estranho

A história se passa dentro de uma instituição chamada Academia Topo da Esperança. Dentro dela, somos apresentados ao protagonista Makoto Naegi e mais outros quatorze estudantes que possuem os títulos de Super High Schools (ou Super Colegiais), cada um ostentando um nível correspondente ao seu talento (cantor, modelo, lutador, artista, hacker e por ai vai). Logo de cara é mostrado que eles estão presos nessa instituição, já que todas as portas e janelas estão seladas com placas de metal e enormes parafusos, e o mais estranho é que nenhum deles sabe como foram parar ali.
Vai por mim, você não iria querer estudar com essa turma

É nesse contexto de dúvidas que aparece Monokuma, um bizarro urso de pelúcia preto e branco com vida própria que se auto intitula como diretor da escola, dizendo que os tirou do mundo exterior por eles serem a "nova esperança da humanidade" e que daquele momento em diante eles irão viver ali trancados para sempre. No entanto há apenas uma forma de qualquer um sair de lá, e esta forma é matando outra pessoa (algo que de cara é rejeitado por todos, mas que Monokuma irá incitar para que venha a acontecer). E assim começa a tensa e desesperadora jornada de Naegi e seus colegas para continuarem vivos.

Uma vida em troca da liberdade... Só que não

Diferente de outras histórias com temática em jogo de sobrevivência, Danganronpa não é um anime para quem espera ver lutas viscerais com aquela boa dose de gore, pois seu foco não está em brigas violentas e sim na estratégia para conseguir matar alguém sem ser descoberto. Isso porque na regra estipulada por Monokuma, após uma pessoa ser encontrada morta, os alunos deverão procurar por pistas sobre quem a matou. Assim é realizado um júri onde eles irão discutir entre si sobre quem é o assassino. Caso acertem, apenas o culpado será executado por seu crime, mas caso errem o culpado será liberto e todos os demais estudantes serão executados em seu lugar.
O grande momento para descobrir quem é o culpado

O enredo lhe cativa justamente não só por obrigar os estudantes a darem uma de detetive, quer seja para encontrar pistas de assassinatos ou para sair do local sem ter que participar desse jogo maldito, mas também por levar o espectador a querer investigar junto com os personagens e até mesmo conseguir resolver o caso antes do próprio anime fazer as grandes revelações. Além disso, com o decorrer da história, começam a vir à tona grandes mistérios em torno do colégio onde eles se encontram, com acontecimentos caóticos de tempos passados, o que os levam a achar que eles não foram os primeiros (e muito menos os únicos) a serem aprisionados neste lugar sinistro.

Uma coisa no entanto incomodará bastante algumas pessoas em Danganronpa: a coloração do sangue. Mesmo com diversos pontos positivos, o sangue com coloração rosa ao invés de vermelha deixa uma sensação de censura na obra (e isso não acontece apenas no anime mas também nos jogos e ilustrações das light novels). O pior é que até hoje não há uma explicação sensata para tal escolha, já que a obra não tem problema na exibição de ferimentos abertos ou cenas "chocantes". Claro que isso é apenas um detalhe que não chega a macular o propósito da obra, mas ainda sim soa tão estranho quanto ver "água" saindo de um ferimento no antigo anime de Hunter x Hunter ou até mesmo ver a famosa "gosma verde" em um fatálity de Mortal Kombat.
Parece mais que ela caiu em cima de danoninho do que de fato está ensanguentada 

Esperança vs. Desespero

Mesmo com todas as atrocidades que a animação apresenta, Danganronpa procura trazer uma mensagem por detrás de toda a sua história com jogos de matança e resolução de mistérios: Nunca perca a esperança. Diante de uma enxurrada de animes seinen que simplesmente procuram investir em sanguinolência gratuita e que por vezes têm como propósito mostrar que nem sempre o bem irá triunfar contra o mal (além de mostrar o lado mais podre da humanidade, como egoísmo e traição), Danganronpa se preocupa tem trazer algo de teor sombrio e desesperador que, vez ou outra, irá chocar o expectador, mas sempre incita a reviver a esperança nos momentos mais difíceis.
É hora da execução!

O próprio protagonista, Naegi, por diversas vezes demonstra isso; entre todos os demais ele é sempre retratado como a pessoa mais azarada de toda a história, o que chega a ser irônico já que seu título é de Super High School Nível Sortudo. No entanto ele é a peça chave para os momentos mais dramáticos entre seus colegas, já que mesmo sem poder realizar feitos tão incríveis quanto os demais, sempre contagia a todos com sua determinação, nunca abandonando a esperança e sempre enfrentando o desespero de cabeça erguida. Falando assim chega até a parecer que esse parágrafo foi retirado de um "livro de auto ajuda", mas só assistindo para realmente compreender tal colocação.

Tudo que é bom tem que continuar!

Após o termino do anime, Danganronpa dá a entender que terá uma continuação (até mesmo pela forma como é encerrado). Nesse meio tempo a Sony lançou a continuação do jogo, intitulado Danganronpa 2: Goodbye Despair, e também um spin-off no estilo shooter, chamado Danganronpa: Another Episode. Foi apenas em 2016, como o anúncio do terceiro jogo da série (New Danganronpa V3: Killing Harmony), que uma nova série animada foi anunciada, ou melhor, duas.

Intitulada Danganronpa 3: The End of Hope's Peak High School (sim! Você não leu errado), foi dividido em dois arcos simultâneos: um se passando antes dos eventos do primeiro Danganronpa (o Despair Arc) e outro seguindo a trama após os eventos do segundo jogo (o Future Arc). O porquê de não terem adaptado o segundo jogo para anime é tão misterioso quanto o porquê de terem insistido com o sangue rosa em todas as histórias. Claro que isso não ficou restrito só aos animes e jogos, já que foram produzidas três light novels da série: Danganronpa / Zero, contando a história que antecede o primeiro título, porém após os eventos do Despair Arc; Danganronpa Kirigiri, contando a história de uma das personagens mais queridas da série; e Danganronpa IF, que funciona como um "e se..." dentro da série (um história a parte do cânone).
A história continua (e o jogo de matança para sobreviver também) 

Danganronpa pode não ser o anime preferido para aqueles que querem curtir algo mais sanguinário (no nível de Elfen Lied ou Berserk) e não dá uma dualidade de visão entre matador e detetive (no estilo Death Note ou Code Geass), mas tem a sua singularidade bem colocada, ótimos traços (principalmente pra quem prefere algo que não remete tanto a brutalidade e goste do estilo kawaii), e o mais importante, é aquele tipo de anime que já te surpreende dentro de poucos episódios iniciais. Mesmo sendo curto, é algo que fará o pouco tempo investido valer a pena.


Desenhista, quadrinista e colunista, é um verdadeiro apaixonado pelo Universo Geek e Cultura Pop em geral. Fã de carteirinha de Sonic, Star Wars, Homem-Aranha, Zelda e dos gênios Akira Toriyama e Jack Kirby, escreve para a GeekBlast e desenvolve pesquisas na área dos quadrinhos.


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