Crítica: Plastic Memories, um romance para refletir

Um anime simples, romântico e divertido que ao mesmo tempo trata de assuntos profundos




Um dos gêneros mais explorados no universo de animes é o da ficção científica e dentro desse universo se encontram mechas, androides, sociedades futuristas, aliens, dentre outros. Os enredos são dos mais variados e muitas vezes utilizam de sociedades futuristas para abordar temas de nossa sociedade atual e poucas mídias conseguem abordar de forma tão inteligente o modo como a tecnologia pode influenciar a nossa sociedade como os animes. Esse texto vai falar sobre um dos animes mais lindos, emocionantes e com uma capacidade incrível de nos fazer refletir na opinião de quem vos escreve, Plastic Memories.


A história se passa em uma sociedade futurista onde os humanos convivem com organismos conhecidos como Giftias, androides possuidores de almas sintéticas produzidos com eficiência unicamente pela Corporação SAI. E é nessa corporação, no Departamento do Terminal de Serviços Nº1 que encontramos o protagonista Mizugaki Tsukasa que chegou para o seu primeiro dia de trabalho.

O anime é curto, possuindo apenas 13 episódios. Logo nos primeiros 5 episódios praticamente todas as informações para nos situarmos nesse universo já são dadas, vejamos as principais. Os Giftias possuem "validade" de 81920 horas (curiosamente como na engenharia tal validade é dada em horas) ou aproximadamente 9 anos e 4 meses, após esse prazo as personalidades e memórias são perdidas restando apenas suas funções físicas. Após esse prazo eles são chamados de “Wanderes”. O trabalho do departamento é recolher os Giftias antes que o prazo seja atingido, para tanto criam duplas formadas por um humano e um Giftia. Eles devem encontrar o proprietário do Giftia e então fazer com que o mesmo assine um documento autorizando que o Giftia seja recolhido.

Falemos então sobre os personagens e como eles são importantes na trama. Para ilustrar abordarei apenas 4 dos personagens principais. São eles: 


1) Mizukagi Tsukasa




O protagonista do anime, Tsukasa é uma pessoa muito bem humorada e sociável que em pouco tempo cria boas relações com seus companheiros de trabalho. Apesar do jeito meio atrapalhado de ser, consegue cumprir sua tarefa dentro da corporação - apesar de muitas vezes sentir-se ressentido por recolher Giftia, chegando a pedir desculpas para seus proprietários. A história foca na relação entre nosso protagonista e o próximo personagem dessa lista


2) Isla





Ela é a Giftia parceira de Tsukasa. Inicialmente nos é passada uma imagem de que ela não possui sentimentos, porém com o passar dos episódios fica mais claro o quanto ela se preocupa com todos ao redor. Isla é uma personagem inocente e com pouco entendimento de interações sociais, ocasionando boas risadas para os telespectadores.


3) Kinushima Michiru




Também funcionária do departamento, Michiru possui uma personalidade dócil, porém alternando com momentos de maior agressividade dando broncas em Tsukasa, usando-se de seu bordão "eu odeio amadores". Apesar disso, ela se importa muito com Tsukasa e com Isla, funcionando como uma mentora e tutora para os dois


4) Kuwanomi Kazuki





Antiga parceira de Isla e atual chefe de Tsukasa e Michiru. Uma líder durona que, apesar de sempre rígida, mostra grande preocupação com aqueles ao seu redor - principalmente com sua ex parceira, que mesmo sendo contestada pelos seus métodos sempre a defendeu - e mesmo depois de a parceria ser dissolvida não deixou de se importar e fazer tudo por Isla e por Tsukasa. 


Reflexões


Com tudo explicado chegou a hora de falarmos sobre o assunto principal do texto: as reflexões que o anime nos convida a fazer. Atenção! Alguns spoilers serão dados.

Nos primeiros minutos do anime, Tsukasa fala que provavelmente nunca viu um Giftia antes e então o primeiro detalhe interessante nos é dado: “provavelmente você não reconheceria mesmo que cruzasse com um na rua”. No decorrer do anime cada vez mais fica evidente o motivo: os Giftias comem, tomam banho, vão ao banheiro, tem diferentes cortes de cabelo, corpos, personalidades e empregos. Ou seja, são humanos, porém com uma expectativa de vida pré-determinada. O mais interessante é ver quão forte o laço dos proprietários é com os seus Giftias, em um dos seus primeiros serviços uma proprietária lhe fala: “talvez vocês só a vejam como um objeto descartável mas para mim ela é tudo o que eu tenho!”. Essa força nos laços causa, muitas vezes, dificuldades para que o recolhimento seja realizado, onde uma das partes não quer se separar da outra, afinal quem quer se separar de um ente querido?

Voltemos agora para Tsukasa, que desde o primeiro momento em que a vê se apaixona por Isla e ela por ele. Contudo, no momento em que Tsukasa se declara para Isla...ela o rejeita.




É, eu sei. Mas porque ela faria isso? Com o passar dos episódios descobrimos que Isla só tem um pouco mais de 1000 horas de vida e por tal motivo a mesma decidiu que seria menos doloroso se ela não acumulasse mais memórias felizes para si. Ao saber do relacionamento entre os dois, Kazulki decidiu dissolver a dupla apenas para mostrar que ficar distante de Tsukasa apenas faria mal a Isla, enquanto Michiru aconselhava e apoiava Tsukasa a fazer tudo o que puder para que ele e Isla ficassem juntos. Os dois acabam juntos e se beijam. Por fim,  Isla acaba sendo desativada. Kazuki acaba agradecendo a Tsukasa por ter ficado ao lado de Isla até o final, fazendo com que o protagonista desabe em lágrimas em uma das cenas mais tocantes que já vi.

Usando-se desse romance e do comportamento de Isla é que se encontra a questão que gostaria de abordar. A primeira frase do anime é: “Se minha vida fosse premeditada me pergunto como lidaria com isso”. Isla, no início, está com muito medo de morrer chegando a dizer: “preferia nunca ter tido memórias. Se eu não guardasse memórias eu poderia viver só pelo meu código. Assim seria muito mais fácil”. Pode parecer uma reação estranha esse modo de pensar, mas o que vocês fariam se descobrisse que só possuem mais 6 meses de vida? Outro detalhe interessante é que o anime mostra diversas reações distintas na figura de diversos Giftias, uns partem felizes por ter belas memórias, outros não querem partir, mas pensam que não querem causar problemas e por fim aqueles que não querem partir e viram Wanderers.


Encarar a morte talvez seja a questão mais difícil durante toda a existência dos seres humanos. Como viver a vida para que possamos partir em paz? Uma pergunta complexa e com várias respostas. O anime nos coloca frente a frente com esse dilema em praticamente todos os episódios e da perspectiva tanto dos que irão partir e dos que irão permanecer e o que podemos fazer para facilitar essa partida, como disse Michiru: "Os sentimentos tanto dos Giftias como de seus donos devem ser respeitados. Se apenas pegássemos os Giftias nosso trabalho só resultaria em tristeza".

Um anime romântico e emocionante, que faz chorar, mas que também aborda um assunto sério e pesado - mas o faz com perfeição. Poucos animes me tocaram tanto, fica a dica de um anime curto mas que vale muito a pena fazer maratona. Quais outros animes vocês gostariam que falássemos aqui no site? Deixe nos comentários para sabermos.

Engenheiro Mecânico, amante de animes e parte da Equipe GeekBlast


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