Crítica: The Owl House - 1ª Temporada

Nova série animada do Disney Channel traz magia com uma pitada de nostalgia e novidade à programação do canal.


2020 tem sido um ano incomum para todos e isso é inegável. Talvez nunca antes tenha sido tão forte o desejo de escapar da realidade para qualquer lugar que seja e, quem sabe, fazer uma fantasia de infância finalmente ser real. É claro que existe a ficção para solucionar tal problema, mas, para Luz Noceda, uma menina descendente de latinos com uma imaginação vívida, ainda não era o suficiente. Ela não queria somente palavras e imagens. Ela queria experiências, aventuras, a pura sensação de magia. E ela conseguiu. Bem-vindos a The Owl House.

E que haja mágica!

Luz não se encaixava muito com a realidade, tanto é que sua mãe iria mandá-la para um acampamento de verão chamado "Pense dentro da Caixa". Mas, após perseguir uma coruja com seu livro floresta adentro, vai parar nas Ilhas Ferventes, um arquipélago de ilhas  hábitado por bruxas, demônios e outros seres mágicos. Lá é acolhida por Eda, uma bruxa fugitiva das autoridades, e King, o demônio mais fofo já visto no universo, passando a viver na Casa Coruja (daí vem o título da série), uma casa controlada por Hooty, o demônio em forma de coruja mais animado que você já viu, e tornando-se aprendiz de Eda para realizar seu sonho, agora possível, de ser uma bruxa. 

A estrutura que o roteiro segue para que a história seja contada não é diferente de outras séries animadas da casa do Mickey (divisão de episódios entre "mitológicos" e "dinâmica da semana", sendo este último tipo mais frequente) e o estilo de animação e humor se assemelha muito a Gravity Falls, e com razão já que a criadora da série, Dana Terrace, foi uma storyboarder da animação de 2012 e Alex Hirsch, que dá voz a King e Hooty, foi o criador da aventuras de Dipper e Mabel e deu voz a Soos, Tivô Stan e Bill Cipher.

Isso tudo passa longe de ser um ponto negativo. Pelo contrário, o principal motivo para eu começar a assistir The Owl House e, futuramente, Amphibia, foi por terem sido idealizados por membros da equipe de Gravity Falls, que eu considero uma das melhores séries já feitas pela Disney. Mas se, em algum momento, havia a necessidade de um diferencial além da temática mágica para se destacar das outras produções do canal, ele surgiu na forma de Luz Noceda

Só dizendo, Luz poderia facilmente ser uma
protagonista de um anime da Shonen Jump. 

Entre bruxas e demônios

Mais do que atingir o público infanto-juvenil, a protagonista foi construída para que, desde sua primeira cena, aquelas pessoas que incorporam a ficção em suas vidas, participam de fandoms, discutem sobre shipps e teorias, desejam viver naquele mundo que, para elas, é tão real quanto a vida, se identificassem com ela. E, após a identificação, é fácil manter um carinho especial pela personagem graças à sua atitude curiosa, positiva, intrometida, ocasionalmente ousada que já levou a situações de quase morte.

Eda é a personificação de um espírito livre, assim como tivô Stanley. Ela repreende um comportamento rebelde de Luz da mesma maneira que o estimula, dado o seu histórico de problemas com regras e figuras de autoridade, não só com a intenção de ensinar magia à humana, mas a liberdade que existe junto a ela. A própria já disse que, antes de Luz, sua vida só se resumia a desperdiçar sua magia e fugir para viver um novo dia, o que adiciona um peso emocional significativo ao momento em que seu complicado passado com sua irmã vem à tona.

King é mais tratado como um alívio cômico e ocasional causador de problemas. Apesar de afirmar que King não é seu nome, mas seu título como Rei dos Demônios antes de perder seu reinado e dono de um vasto conhecimento sobre demoniologia, essa é a única coisa concreta que temos sobre ele, mas isso não impede de que ele consiga alguns risos do espectador.

Hooty também entra no mesmo caso de King, só que com ainda menos informações sobre seu passado. Seu tempo de tela é bem pequeno em relação ao trio principal e outros co-protagonistas, mas sua atitude exageradamente ingênua, alegre, junto com sua grande força e elasticidade aparentemente infinita (de acordo com a própria criadora da série) faz com que ele facilmente roube a cena quando aparece. E ele não sabe diferenciar um desenho da realidade.

Senhoras e senhores, a bruxa mais poderosa das Ilhas Ferventes.

O mundo, nesta primeira temporada, é construído mais através de diálogos expositivos de Eda. Isso não é um incômodo porque, assim como a Luz, o espectador é um visitante recém-chegado e é tratado desta maneira, mas sem nunca subjulgar sua inteligência. Assim passamos a ter uma maior noção da origem das Ilhas Ferventes, da magia, como as pessoas a operam, o sistema de facções imposto pelo Imperador Belos, entre outros fatores. O pouco que a animação informa somente para o espectador é o suficiente para criar expectativas e teorias para o segundo ano.

A sinopse oficial descreve a série como uma animação de terror e comédia, mas a palavra "terror" pode ser considerada um exagero porque o que existe é um temor pela vida dos personagens perante a situações de quase morte e, salvo raras exceções onde pode haver uma angústia genuína, existe um viés cômico na maioria destas sequências e vender a série dessa maneira foi um equívoco.

Uma grata surpresa foram as cenas de batalha entre Eda e Lilith. Embora só existam duas, uma no início da temporada e outra no final, elas são muito bem animadas e dirigidas, transmitindo com facilidade o nível de poder de ambas as bruxas e as diferenças em habilidade e código de ética.

Conclusão

Embora o pouco que se aventura fora do padrão de outros desenhos do Disney Channel pode surpreender, tanto positiva, como negativamente, o espectador, The Owl House foi feita, primeiramente, com um propósito claro de ser uma animação bem feita do canal para assistir casualmente e cumpre tal papel com louvores graças a suas situações bem humoradas e seus personagens carismáticos enquanto entrega uma história contada a pequenos passos para lentamente conquistar e manter seu espectador.

"Por que minha casa quer comer uma mosca?"

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