Livros

Resenha: O Mar de Monstros

O segundo livro da série Percy Jackson é divertido, mas não chega aos pés do primeiro


A famosa saga de livros Percy Jackson & os Olimpianos, escrita por Rick Riordan, é composta por cinco livros, sendo que os dois primeiros ganharam adaptações no mínimo infiéis para o cinema. Agora, com a confirmação de que a Disney+ está produzindo uma série baseada nesse universo, decidi reler os livros para me lembrar da história e, também, aquecer o coração. Todavia, como nem tudo são flores, alguns livros nós não deveríamos reler. Esse foi o meu caso com O Mar de Monstros.


Sinopse:

Nessa segunda aventura da série Percy Jackson & os Olimpianos, Percy e seus amigos estão em busca do Velocino de Ouro, único artefato mágico capaz de proteger da destruição seu lugar predileto e, até então, o mais seguro do mundo: o Acampamento Meio-Sangue.
Com o envenenamento da árvore de Thalia por um inimigo misterioso, as fronteiras mágicas que protegem o Acampamento estão ameaçadas, e é preciso buscar o antídoto. As coordenadas da missão -30-31-75-12 - são uma referência ao Triângulo das Bermudas, no temido Mar de Monstros.
Uma jornada que colocará à prova a herança de nossos heróis - quando Percy irá questionar se ser filho de Poseidon é uma honra ou uma terrível maldição.

A memória é traiçoeira, e na minha, O Mar de Monstros sempre foi superior ao seu antecessor, isso porque eu apenas dormi durante a minha primeira leitura de O Ladrão de Raios. Por isso, achava que o segundo livro da série era muito mais aventureiro, coerente e divertido, mas não foi bem isso o que eu encontrei durante a segunda leitura.

Desde o começo, temos ação, e a aventura de Percy e seus amigos começa logo nas primeiras páginas. No último dia de aula, Percy e seu único amigo, Tyson, lutam contra monstros durante uma partida de queimada. De repente, Annabeth chega para levá-los para o Acampamento Meio-Sangue, porque eles estão com problemas. A árvore de Thalia, que protegia as barreiras mágicas do Acampamento, foi envenenada, e eles precisam não somente descobrir quem fez isso, mas também como salvá-la.

Para piorar a situação, monstros estão atacando o único lugar em que os semideuses estariam a salvo, Quíron, o diretor de atividades do Acampamento, foi deposto, e quem entrou em seu lugar foi Tântalo, filho de Zeus condenado ao Tártaro por ter roubado o manjar dos deuses. Apesar do caos instaurado, Tântalo simplesmente não se importa, e com uma postura maléfica, ele continua com as atividades normalmente e, para o azar de Percy, sempre favorece Clarice, filha de Ares e sua arqui-inimiga.

Tudo muda, porém, quando Percy conta que está tendo sonhos com Grover e percebe que esses sonhos são frutos de uma conexão que o amigo sátiro fez com ele por dois motivos: para pedir ajuda por estar sendo refém de um ciclope e para dizer que a solução para salvar o Acampamento está bem próximo dele. O problema? Ele está em uma ilha no meio do mar de monstros.

Assim, Tântalo designa Clarice para uma missão em busca do Velocino de Ouro, que vai trazer a árvore de Thalia de volta à vida, e proíbe Percy, Annabeth e Tyson de se envolverem. Obviamente, isso não dá certo, e, incentivado pelo próprio deus Hermes, o time foge pelo mar e vai em busca de Grover e da salvação para o Acampamento Meio-Sangue.


Pensando bem, há vários pontos positivos em O Mar de Monstros. Primeiro, Rick Riordan conseguiu construir dinâmicas muito interessantes entre as personagens, dando a elas uma profundidade maior do que no livro anterior. Além disso, a construção de muito continuou sendo muito bem explorada, trazendo detalhes mencionados no livro anterior, como o próprio Velocino de Ouro. Mas o que mais me impressionou foi como o autor soube juntar tantos detalhes em 286 páginas. Acredito que isso se deva ao fato de o primeiro livro ter tido um desenvolvimento bom o suficiente para sustentar os livros seguintes sem precisar dar tantas informações, permitindo muito mais espaço para ação e aventura.

Entretanto, não fiquei tão presa à narrativa quanto achei que ficaria, isso porque nem todos os pontos positivos juntos foram capazes de me fazer engolir a quantidade de deus ex machina. Afinal, se em O Ladrão de Raios Percy contou com a sorte de semideus principiante para destruir uns quatro ou cinco monstros ao longo de 400 páginas, neste, os monstros simplesmente o deixavam fugir o tempo todo. Praticamente, quase todo final de capítulo ele se livrava de alguém muito poderoso, e não demorou menos da metade do livro para eu cansar desse lengalenga. Além disso, algumas cenas, para mim, foram desnecessárias, serviram apenas para falar de mais aspectos mitológicos que não agregaram em nada, pelo menos aqui.

No que diz respeito à tradução, o meu problema dos diálogos de Ricardo Gouveia não acabaram nesse livro, apenas se intensificaram, e não sei se foi uma questão propriamente dita da tradução ou se foi da preparação ou até do próprio Riordan. A cada fala parece haver uma interjeição desnecessária, como “ah”, e eu estava prestes a socar a próxima personagem que falasse isso. Outra questão que me deixou incomodada foram as falas de Tyson. Ele é descrito como uma personagem meio boba, e o jeito que ele fala deixa isso bem claro, mas por vezes a escrita parece esquecer disso e ele fala coisas normais como qualquer pessoa, o que quebra um pouco a experiência de leitura. No mais, a tradução desse livro parece mil vezes mais informal do que o primeiro, então acredito que tenha tido uma evolução no trabalho de Gouveia no quesito linguajar infanto-juvenil.


Mesmo com as minhas reclamações infinitas, O Mar de Monstros ainda foi um livro legal. Nele há cenas icônicas para o fandom de Percy Jackson, como Grover com o vestido de noiva, Percy e Annabeth no mar e a cena final, também conhecida como o maior spoiler que você vai tomar se for conferir quantas páginas o livro tem, e isso, combinado com os aspectos positivos previamente citados, fez a leitura valer a pena.

Por fim, o segundo livro de Percy Jackson & os Olimpianos não chegou aos pés de seu antecessor, mas cria uma base profunda para os livros seguintes da série. Quando for (re)lê-lo, não crie expectativas altas e sempre se lembre de que este é um livro infantojuvenil. Com esse pensamento em mente, a leitura provavelmente não será tão arrastada quanto foi para mim. Agora, espero não me decepcionar com os livros seguintes, porque, pelo que me lembro, eles são os melhores, mas acho que já aprendi que não devo confiar tanto em minhas memórias. Afinal, a expectativa é a principal responsável pela decepção.

Ficha Técnica


Título: O Mar de Monstros
Título original: The Sea of Monsters
Autor: Rick Riordan
Tradução: Ricardo Gouveia
Editora: Intrínseca
Edição: 1ª ed., 2009

Estudante de Letras – Português-Inglês na UFMG, mas mora em São Paulo. Amante de arte independente, mas vê tudo o que é mainstream. Assiste a filmes, séries e animes, mas também lê livros e ouve música o dia todo. Diz que quer ser escritora, mas nunca escreveu uma palavra na vida... Quer dizer, só algumas.


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