Dragon Fest: Entrevista com a dubladora Úrsula Bezerra

Úrsula Bezerra, dubladora de Naruto, se emociona com o carinho do público e conta um pouco de sua trajetória durante o Dragon Fest

foto por Oscar Stefanno Fornari

A dubladora e diretora Úrsula Bezerra, a aguardada atração do Dragon Fest, esteve presente no segundo dia do evento realizado no último fim de semana em São Vicente, Baixada Santista. 

A GeekBlast pôde fazer algumas perguntas durante o bate-papo descontraído com a plateia presente. Visivelmente emocionada, cercada por crianças e um público que já a acompanha há mais de dez anos, você confere com exclusividade tudo que aconteceu a seguir:

Úrsula abriu a conversa expressando a emoção de estar novamente em contato com o público, já que sua última participação em um evento foi no final de 2019, por conta das restrições do isolamento social e a COVID-19. Além de enumerar alguns de seus principais trabalhos: Naruto Uzumaki(Naruto), Goku criança(Dragon Ball), Chaos(Dragon Ball Z), Chuckie(Rugrats e Rugrats Crescidos), Pequeno Urso...e dos mais recentes, Shun na série original Netflix Cavaleiros do Zodíaco e sua volta ao dublar Rini/ChibiUsa no Pretty Guardian Sailor Moon Eternal: O Filme da Netflix.

"Eu não fazia ideia de que o Naruto era conhecido. Fiz cinco vezes o teste. Primeiro foram todos os meninos..Fábio Lucindo, Vagner Fagundes, Yuri, também mulheres que faziam meninos...fui chamada na raspa do tacho, porque acharam que eu não teria tempo, eu dirigia o tempo inteiro!"

A dubladora descreveu a sensação ao saber que iria dublar o personagem Naruto e complementou que o primeiro teste que fez foi muito louco:

"Tinha uma cena briga, risada, nervoso. Quatro cenas. “A gente tá fazendo um teste ou fazendo os episódios?” perguntei. Refiz cinco vezes e estava quase desistindo. Tinha que atravessar a Madalena e a Vila Mariana, suas adjacências, uma Paulista inteira pra atravessar. Uma hora pra ir fazer o teste e voltar, e ficar sem almoçar. O Wellington que faz a Raposa falou “Vai que é série grande”. Dublador adora série grande. Passei no teste sem saber que o Naruto faria sucesso e sem saber absolutamente nada."

Há mais de dez anos emprestando sua voz ao personagem e vinte como diretora e dubladora, Úrsula destaca que vê uma geração nova e mais velha conhecendo e revisitando o seu trabalho. E um aumento expressivo durante a pandemia.

Ela que trabalha no meio artístico desde muito cedo quando fez seu primeiro comercial para a Kellogg's

"Trabalho no cinema, teatro, televisão. Recentemente postei uma lembrança que fiz o Bozo, fui a mini secretária do Bozo. A dublagem apareceu tem bastante tempo dos sete para os oito e fui me apaixonando."

De família de dubladores, comenta que compartilha com seus irmãos (Wendel Bezerra e Ulisses Bezerra) os personagens e do privilégio que tem e descarta comparações.  

"Eu compartilho com Wendel o Goku, eu compartilho com o Ulisses o Shun e a Shun. Minha família sempre me apoiou.

Se já fizeram comparações eu nunca vi. A gente tem voz diferente. Já fizeram piada que o Shippuden deveria ser dublado por ele. Tem gente que fala "Prefiro seu irmão", eu falo "ok"."

O seu personagem mais conhecido entre o público é também o mais difícil de sua carreira. A dubladora perdeu a voz por três dias após a primeira dublagem de Naruto, com cenas muito difíceis. Mas pensa que se a escalaram para o papel ela tem capacidade e pode fazer.

E para espanto de muitos, Úrsula confessou que propriamente nunca assistiu Naruto.

"Eu assisti os episódios dublando. Eu ganhei o box do Naruto clássico. A falta de tempo me faz não assistir. Eu nunca vi tudo, se falar, vou mentir. Tem técnico na UniDub que fala “passo o dia te ouvindo em casa com meu filho e escuto aqui de novo”"

Aos que esperam novos episódios dublados de Shippuden, mesmo com tamanha recepção da série anime, não há nenhuma previsão. 

Afirmou que no começo havia uma especulação se ela faria ou não. Quando fez o primeiro episódio pensou "uh, eu vou fazer". E que os primeiros foram bem sofridos, por até então estar acostumada com a série clássica em que são 'bem gritados', 'lá em cima'. O diretor sempre corrigia "olha a voz, o tom não é esse". Todos envolvidos estavam na expectativa de seguir as dublagens dos mais de 500 episódios da série, o que não aconteceu. 

Sobre Boruto, Úrsula Bezerra afirma que adoraria ter dublado, mas "dublador é que nem mulher traída, é o último a saber".

É assim que a dubladora explica um pouco mais sobre o processo de dublagem, desde o recebimento do script, o que pegou de surpresa suas colegas e o recente retorno de Sailor Moon em dois filmes na plataforma Netflix. Úrsula voltou a interpretar Rini/ChibiUsa depois de 20 anos! 

"Quem assistiu Sailor Moon depois de 20 anos...eu era a única que sabia que voltaria a dublar. Os bastidores do filme foi uma sessão de choro em home estúdio, a diretora Flora que assistiu a gente criança cresceu e foi dirigir a gente. Era um chororô coletivo. As outras dubladoras foram pegas de surpresa. Eu gravei a Rini, eu estava doente na gravação e fiquei mais rouca que o normal. Essa emoção a gente só sabe na hora."

Inclusive que não faltou durante o bate-papo. O que acontece na hora de sentir a emoção do personagem.  

"Você já viu que já chorei várias vezes só hoje? Eu choro, dou risada. E tenho que parar de gravar porque não paro. Seja dublando ou dirigindo, eu choro de verdade."

Não elege nenhum personagem como seu favorito, pois se falar de um deixará o outro triste. Adora todos e cada um tem sua peculiaridade. Com o Naruto demorou a se divertir, uns cinquenta episódios até falar "ok". “De vez em quando eu penso por quê você grita tanto, Naruto?”Até um certo ponto era um sofrimento, mas depois começou a se divertir e se apaixonar por ele. O seu queridinho da série por ser o mais inteligente e elege cenas "o corte na perna no clássico" e no Shippuden a morte do Gaara "não pela morte, mas pelo tom da cena" como suas favoritas. 

"Tem coisas, o Naruto é muito parecido comigo na determinação. Não importa o quão difícil eu faço. Eu vou vendo o que identifico comigo.

Eu morria de rir fazendo o Goku. É isso que eu tenho na minha vida, eu tô sempre rindo, quem me conhece sabe.

A Rini ela quer um negócio e acredita naquilo, eu sou bem assim. Todos foram um grande presente na vida e só tenho a agradecer."

A respeito da profissão de dublador, a única coisa que a incomoda são palavrões. Ela não fala palavrões, não gosta. Só os profere se é obrigada. 

Quem pretende seguir na profissão, ela deixou algumas dicas.

"Procurem um bom curso de dublagem. Hoje não se dubla mais junto. Só se junta quando tem vozerio. Hoje em dia setenta por cento gravando em home estúdio por conta da pandemia. Hoje não tem mais como fazer estágio.
Ler, gostar de ler. Tem que ter boa dicção. É difícil como qualquer profissão, mas não é impossível. Fãs que hoje também dublam. Com tudo na vida é um desafio. Não esperar do céu."
"Não desistam de seus sonhos. Não procurem sucesso e dinheiro, isso é consequência. Sucesso só vem antes do trabalho no dicionário."

Úrsula se considera uma pessoa desligada para muitas coisas e acha engraçado quando é reconhecida ou alguém diz que ficou com vergonha de pedir foto. Não se julga famosa, mas lembra que até em uma viagem para a Espanha numa loja de cosméticos foi abordada. O que sempre acontece quando sai de casa.

Agradece o carinho de tantas gerações que influencia e conta seus planos de carreira citando Chaplin

"Assim como vocês eu assisti desenhos na infância. Eu cresci do lado das pessoas que faziam os desenhos que assistia. Se alguém quando eu fosse criança me dissesse que eu seria referência. Quando eu ouvi isso num evento me deu um choque. A nossa responsabilidade se torna maior, sou uma profissional, amo que eu faço.

Tem filmes que gostaria de regravar, pois acho que nunca fiz muito bem."
"O Chaplin dizia quando o perguntavam que o melhor filme que já fez é o próximo. Fico muito feliz de ser referência pra mais de uma geração."

 




Roteirista, diretora e produtora Audiovisual/Cultural no Estúdio Homies. Artista Multimídia. Designer Gráfico/Game Designer. Revisora. Redatora. Conselheira de Cultura. Streamer nas horas vagas e sonhadora em tempo integral. Fada do Gonzaga e Elfa da Pompéia nos RPGs da vida.


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