Cinema

Crítica: No Ritmo Da Vida e a urgência de mudanças

No ritmo da vida filme com temática LGBTQIA+ apresenta reflexões sobre o envelhecimento e um protagonista em busca de viver sua verdade



No Ritmo Da Vida, filme que chegou dia 3 de março nos cinemas, apresenta a história de duas pessoas em momentos extremos da existência humana. Enquanto Russell é um jovem em busca de oportunidades, Margaret é uma mulher lutando para não ser esquecida numa instituição para idosos.

É engraçado como não nos sentimos confortáveis com o silêncio, pois, somos constantemente incentivados a estar em movimento. Tanto que quando não estamos fazendo nada, sentimos culpa. Nesse filme temos muitos momentos de ausência de som, silêncios reflexivos. Ocorre que, a pausa é necessária para manutenção de nossa harmonia mental.


Sinopse:

Diante de um espelho de camarim nos fundos de um bar gay movimentado da cidade, Russell, um ator que virou drag queen, lutando para encontrar sua voz, recebe um ultimato doloroso. Dominado pela indecisão, ele foge para a casa da avó no campo. Lá, ele encontra a sarcástica Margaret em declínio acentuado. Em uma solução perfeita, embora precária, para ambos, ele se muda para protegê-la de seu maior medo – a casa de repouso local. Em pouco tempo, Russell está iluminando o bar da faculdade local com seu alter-ego Fishy Falters. Antagonizado por sua mãe super protetora, um universitário sexy, embora misterioso, um dono de bar gay em Cockney City e o espectro de seu avô artista fracassado, Russell luta para criar uma ousada nova identidade. Enquanto isso, Margaret luta para retomar o controle, apesar de sua mente decadente. O filme apresenta duas pessoas inseridas em grupos marginalizados. Russel um jovem LGBTQIA+ que busca por uma identidade dentro do cenário drag e sua avó. Uma idosa que vive sozinha e enfrenta os desafios do envelhecimento.

Enquanto Russell luta pelo direito de viver sua vida segundo seu entendimento de si, não no que a sociedade espera conforme seu gênero biológico. Margaret, sua avó, batalha pelo direito de ter uma vida digna, sem que seja tratada como um produto que deve ser substituído. Envelhecer não é fácil em lugar nenhum do planeta, assim como ser uma pessoa LGBTQIA+.

Explorando o significado de No ritmo da vida

O título No ritmo da vida, tradução brasileira do original Jump, Darling. Que também é um excelente título, depois falo um pouco sobre. Amarra de forma genial a ideia do longa, o ritmo que a vida segue nas diversas fases da existência humana.

Se para Russel as coisas são rápidas e urgentes. Correndo para se firmar como indivíduo, ter o direito de viver sua verdade, e ser quem é. No caso da sua avó é mais lento.

Margaret vive o ritmo lento de quem não lembra mais dos compromissos, de quem não tem mais a mesma destreza, de quem já viveu o suficiente. Experimentando a perda do direito de sonhar, já que envelhecer significa estar mais próximo do fim, que do início de algo novo. Isso não é justo.

Estamos vivendo mais, no entanto, ainda não descobrimos o que fazer com os idosos. Quando eles deixam de ser produtivos, gerar riqueza para o país. Como continuar existindo quando se é considerado um problema? Enquanto assistia a esse filme, só lembrava do vídeo do Padre Fábio de Melo A Liturgia do Tempo.

Segundo levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2100 40,3% da população brasileira será idosa. Também teremos a redução da população, que cairá dos atuais 194,7 milhões de indivíduos para 156,4 milhões.

Cenário irreversível provocado pelas mudanças sociais como maior inserção da mulher no mercado de trabalho, planejamento familiar e maternidade tardia. Desafios que já são enfrentados por países do velho mundo como Itália, Inglaterra e Portugal. Porém, são países que conseguem atrair jovens de outros, em desenvolvimento. Como vamos manter os jovens por aqui?? Qual é o incentivo para esses jovens ficarem em sua terra?

Portanto, a pauta do envelhecimento é urgente, além disso, os idosos merecem uma vida digna.


Jump, Darling

Em O ritmo da vida temos duas pessoas em momentos diferentes da existência humana. Enquanto Russell vai ao encontro do desconhecido, ao desistir de um relacionamento que não faz mais sentido para se tornar um artista. Margaret é uma mulher que precisa tomar uma decisão que vai mudar sua rotina. Em função disso, luta com todas as forças para não ter que aceitar seu triste destino.

Logo, pular tem significado diferente para os dois, aliás, tem significado diferente por causa do período de nossa existência que ambos representam. Russell a juventude repleta de oportunidades. Margaret a terceira idade e sua ausência de perspectivas. Será que envelhecer é só esperar pelo fim?

A palavra jump faz mais sentido para Margaret, mas não vou dizer o porquê para não dar spoilers. Só assista e tire suas próprias conclusões;

Enfim, para quem está buscando uma narrativa que causa desconforto, sim, temos verdades que precisam ser ditas, e reflexões necessárias, o filme No ritmo da vida é uma boa escolha.

 


Ficha técnica

Título: No ritmo da vida

Título original: Jump, Darling

País: Canadá

Data de estreia: 3 de março de 2022

Gênero: Drama, Comédia

Classificação: 14 anos

Duração: 90 minutos

Distribuidora: A2 Filmes

Direção: Phil Connell

Elenco: Cloris Leachman, Thomas Duplessie, Linda Kash, Jayne Eastwood, Daniel Jun, Rose Napoli, Andrew Bushell, Mark Caven, Katie Messina


Kika Ernane, Karina no RG, e sou multitasking (agora que aprendi o significado do termo segura). Uma mulher como muitas da minha geração, que ainda não descobriram como aproveitar a liberdade que lutaram tanto para conseguir. Muito menos administrar todas as tecnologias disponíveis. Enfim, estou sempre aprendendo.


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