Séries & TV

25 anos do Anime Pokémon e uma segunda crítica de Jornadas

Por falhar em pontos cruciais, Jornadas pode não ser agradável a todos, mas sua intenção em ser uma saga comemorativa é funcional e louvável.


2022 tem sido um ano especial para a franquia Pokémon. Enquanto muito se comentou sobre o lançamento de Pokémon Legends: Arceus e o anúncio da 9ª geração, prevista para o final deste ano. Uma comemoração bem mais específica também foi lembrada por alguns fãs: mês passado, no dia 1º de abril, o anime completou 25 anos de estreia.
São duas décadas e meia de viagens, amigos e batalhas de Ash e Pikachu. Embora, o timing não tenha sido o dos mais precisos, ainda acredito que seja uma boa oportunidade de lançar um novo olhar sobre Pokémon Journeys, trazendo à luz alguns acertos e erros da saga mais recente da produção enquanto, possivelmente, vai dando seus primeiros passos rumo a seu fim.

O menino de Pallet e o Top 8

Uma pequena recapitulação de onde estamos e como chegamos aqui. Quando anunciada no final de 2019, Jornadas Pokémon, como ficou conhecida aqui no Brasil, veio com a proposta mais ambiciosa do anime: fazer Ash e Pikachu viajarem por todas as regiões existentes, até então, da franquia. Com a exibição dos primeiros episódios, tal iniciativa se revelou como parte do trabalho que Ash e seu novo parceiro Goh passariam a fazer como pesquisadores do recém-inaugurado Laboratório Cerejeira.

Avançando um pouco mais no tempo, com a introdução do Campeonato de Coroação Mundial de Pokémon, um brilho de esperança surgiu nos olhos dos fãs, já que a possibilidade de companheiros de viagem, rivais e campeões de sagas anteriores voltarem para, no mínimo, mais um episódio era a realização de um sonho de longa data. Pois, poucas foram as vezes em que o Anipoke referenciou eventos ou trouxe elementos do passado para a narrativa que estava desenrolando-se naquele momento.

No momento em que estou redigindo este texto, o menino da cidade de Pallet está na 9ª posição e, como bem pontuado pelo Canal do Camaleão, sua última janela de oportunidade para entrar no Top 8, a chamada Master Class. Que já tem data e adversário: no dia 6 de Maio, Ash enfrentará Raihan, líder de ginásio de Galar do tipo Dragão, rival do Campeão Leon e atual número 8 do ranking.

É a última chance de um destes dois treinadores derrotarem o Leon.
(Mas a gente já sabe que quem vai ganhar é o Ash. Seria surpresa se não fosse.)
(P.S.: Não foi.)

Este episódio marcará o fim da fase de ranking do Campeonato e o início de sua segunda fase, onde os 8 melhores se enfrentarão pelo título de Monarca em um formato mais parecido com a tradicional Liga Pokémon. Ainda que o conceito de um ranking mundial tenha sido uma ótima ideia no papel, em retrospecto, é possível notar certa "artificialidade" em sua implementação.

Digo isso porque, em uma competição com mais de 1000 participantes do mundo todo, era de se esperar que a posição do Ash sofresse pequenos aumentos ou quedas de um episódio para outro, em detrimento dos resultados de outras várias batalhas que estariam ocorrendo mundo afora, mas isso não acontece. Foi como se, em todo episódio em que o foco central não fosse uma batalha do Ash com o objetivo de subir no ranking, o Campeonato simplesmente dava uma pausa. Ninguém batalhava, ninguém subia, ninguém descia. 

Somando isso a outras inconsistências da produção quanto ao Campeonato (a aparente falta de revanches, a aleatoriedade do formato de batalhas, a falta de mais treinadores de peso como outros Líderes de Ginásio, Elites 4, Cérebros de Fronteira...) e quanto ao próprio Ash (o aparente peso do roteiro em certas vitórias, a falta de cenas do time treinando ou criando vínculos entre si fora de episódios focado nisso, algumas decisões duvidosas...), é notável que faltou um certo grau de refino nesse lado do anime.

O menino que sonha com o Mew

Para o anime, jogadores de Pokémon GO estão armados com PokéBolas até os dentes.
Honestamente, não estão errados.

Quanto ao Goh, além do trabalho como pesquisador do Laboratório Cerejeira, ele está concorrendo a uma das três vagas disponíveis para integrar o Projeto Mew, uma organização que, como o próprio nome indica, tem por objetivo procurar, capturar e estudar o Pokémon Lendário, para melhor entender a origem destas criaturas fantásticas (e onde habitam).

Em sua estreia, Goh apresentou uma prepotência misturada com um toque de "sabe-tudo" que, quando foi revelado seu desejo em ter o Mew como seu PRIMEIRO parceiro Pokémon, logo houve esta polarização entre quem gostava e quem detestava o personagem. Alguns até viam o Goh como uma ameaça ao protagonismo do Ash, como se fossem substituí-lo ao final da saga

E mesmo quando, pouco tempo depois, decidiram que o menino de Vermillion, para chegar ao lendário, capturaria todos os demais monstrinhos no melhor estilo do jogo mobile de mesmo nome, essa polarização ainda se manteve e pode até ter se agravado em episódios com grande número de capturas (uma vez ele chegou a pegar 12), episódios envolvendo lendários (vide episódios com a presença de Zapdos e Suicune) e até o simples fato dele somente usar Pokébolas normais.

Senhoras e senhores, eis a possível maior controvérsia de 25 anos de anime: Goh ter um Lendário.

O que desejo apontar aqui é a incoerência do arco narrativo do Goh porque passa a sensação de que há um processo de amadurecimento do personagem, mas sim que, em resposta às críticas negativas e à baixa audiência do anime, os produtores simplesmente apagavam o que estava sendo rejeitado pelos fãs, faziam desde pequenas cenas até episódios inteiros para tentar corrigir o "erro" e ofereciam outra abordagem para avançar com a jornada dele.

Eu acredito que o Projeto Mew estava sim nos planos da produção (tanto é que o próprio Gary, além de introduzir a iniciativa, posteriormente se torna, junto com Tokio/Horace, amigo de infância do Goh, competidores pelas vagas), porém, existe a chance dele já ter sido idealizado como outra destas abordagens  corretivas da jornada do Goh, sendo uma alternativa para a aparição de outros Lendários sem envolver captura direta e, logicamente, mais reações negativas. Pelo processo seletivo ocorrer através do cumprimento de missões de diferentes naturezas, sendo algumas centradas em batalhas e cooperação, as duas coisas que o Goh tem mais dificuldade, vai ser interessante ver como isso se desenrolará até o final de Jornadas.

O retorno do Gary como candidato ao Projeto Mew foi um dos maiores acertos de Jornadas.
E o Goh conseguiu um rival que enfia mesmo o dedo na ferida, só que de forma menos
arrogante do que em 1997.

A menina que busca por seu futuro

Mesmo que seja semelhante ao arco narrativo de outras companheiras de viagem do Ash, como Serena e May, Chloe começou com um diferencial, de estar alheia ao mundo Pokémon, não ter nenhum interesse por batalhas, capturas, concursos, ou qualquer atividade que envolva os monstrinhos de bolso, mesmo com seu pai sendo um Professor e o Yamper da família tendo mais apego a ela em relação aos demais. 

Fazer com que ela, gradativamente, com ajuda do Ash e do Goh, fosse descobrindo este lado da vida, até então desconhecido para ela, e experimentando as diferentes possibilidades de futuro que surgiam com o tempo, já estabelecia um genuíno interesse em acompanhar sua jornada. Provavelmente, devido à decisão da produção em focar mais em Ash e Goh, Chloe acabou sendo reduzida a um personagem secundária e seu arco acabou sendo prejudicando por causa de um limitado tempo de tela e uma inconsistente distribuição de seus episódios centrais.

Houve uma nova tentativa, mais tarde, de torná-la relevante de novo ao dar seu primeiro parceiro (porque o Yamper, aparentemente, não conta). Uma Eevee cuja instabilidade genética faz com que não consiga/não queira evoluir. Usar o Pokémon como justificativa para, ao pesquisar sobre as possíveis evoluções de sua parceira, Chloe possa ter maior presença no anime sem, necessariamente, ser uma protagonista, tem dado um retorno moderadamente positivo. E ela já teve sua primeira experiência com os Concursos Pokémon, algo que estava em falta desde XY, com a ajuda de uma pessoa muito querida pelos fãs. Se esse for o caminho que ela escolherá, só o tempo dirá.

Em seu retorno, Serena teve mais tempo de tela
com a Koharu do que com o Ash. É sobre isso!

Quando a realidade chama

Provavelmente você deve ter chegado a esse ponto do texto achando que eu não gosto de Jornadas e, não está totalmente errado. Posso dizer que me apaixonei mais pela ideia que os produtores queriam executar do que aquilo que realmente foi produzido e exibido. Mas dizer que foi uma experiência ruim, além de ser mentira, seria desmerecer toda a equipe do anime, a qual acredito firmemente que fez o seu melhor dadas as circunstâncias e imposições que receberam dos executivos da Pokémon Company e da TV Tokyo.

Eu ri. Eu chorei. Eu me animei. Eu me frustrei. Eu me surpreendi. Eu me entediei. Eu abandonei. Eu retornei... e, acima de tudo, eu nunca pensei que, de todas as produções animadas vindas do Japão, a que eu mais teria interesse em acompanhar semanalmente episódios, rumores, vazamentos e teorias seria Pokémon. E se esse retorno de fãs afastados da vida e aventuras de Ash Ketchum e seu parceiro Pikachu foi a principal motivação por trás de Jornadas, então eles foram muito bem sucedidos.

Que venha o Torneio dos Mestres! E que venha Ash Campeão Mundial! 
(Mas se resetarem ele na próxima temporada, eu largo de mão de novo rsrsrs)

Mega Evolução, Gigantamax, Movimento Z e Bond Phenomenom...
Pode vir, Leon, porque o menino Ash tá mais que pronto!

Escreve para o GeekBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google