Cinema

Crítica: Perdida - e o resgate dos romances de época que amamos

O filme Perdida, baseado na obra de Carina Rissi, apresenta a história de amor de Sofia e Ian Clark, além de fazer um resgate dos romances de época

O filme Perdida, que estreia exclusivamente nos cinemas dia 13 de julho, com roteiro baseado na obra de Carina Rissi, apresenta a história de amor de Sofia e Ian Clark, duas pessoas que nasceram em períodos históricos muito diferentes. Ela, a mocinha moderna que viaja no tempo para encontrar o príncipe encantado, Ian, o rapaz que precisa atender às exigências da sociedade em que vive, casar para perpetuar o gene da família. Universos divergentes que colidem, como fazer essa história de amor dar certo? Quando a liberdade de um, atravessa as crenças do outro?

Sinopse

Baseado no sucesso de vendas da autora Carina Rissi, o livro ‘’Perdida’’ ganha uma adaptação e chega aos cinemas contando a história de Sofia (Giovanna Grigio). Uma garota moderna e independente, mas quando o assunto é amor, os únicos romances da sua vida são aqueles do universo literário de Jane Austen. Após utilizar um celular emprestado, algo misterioso acontece e ela é transportada para um mundo diferente, que se assemelha ao século XIX. Sofia é acolhida pela família do encantador Ian Clarke (Bruno Montaleone), enquanto tenta desesperadamente encontrar uma forma de retornar a sua vida. O que ela não sabia é que seu coração tinha outros planos.

Cada período histórico tem seus próprios desafios

Amo Orgulho e Preconceito, mas toda vez que assisto ao filme fico pensando na barra dos vestidos arrastando no chão molhado e lamacento, imaginando a quantidade de barro que deve acumular. Um desespero, especialmente nos dias chuvosos. Acredito que Sofia sentiu algo parecido ao pisar no século XIX, pois, nos livros de Jane Austen tudo é tão bucólico e deslumbrante, entretanto, a realidade é bem diferente da ficção.

Ocorre que, estar vivendo numa narrativa de novela das 6 da Globo, não é tão fantástica quando sua vida se resume a se enfeitar como uma árvore de natal, para encontrar um marido. Situação bem diferente da vivida por Sofia, uma jovem independente, que já sofreu muitas desilusões, por isso, vive através das narrativas de Jane Austen, sua autora favorita, a mulher que criou romances que conquistaram gerações.

Portanto, o choque de realidades faz com que Sofia enfrente situações que parecem que já deviam ter sido superadas, mas, ainda nos assombra. Como ser julgada o tempo todo por ter atitudes que não são consideradas femininas. A necessidade de ter um relacionamento para ser validada, como se sua existência dependesse disso. Enfrentar os fiscais da idade alheia, "afinal você já está ficando velha para casar", afinal o relógio biológico não para. Também temos a frase "na minha época era melhor", uma grande mentira, já que no início do século XIX nem privada tinha. Socorroooo!

O que dizer dos bailes?

Eventos onde mulheres eram expostas como carne em açougue para quem tivesse a melhor oferta. Ou melhor, para homens que não fazem o mínimo, uma vez que não precisam, basta balançar a bolsa de moedas que o leilão começava.

As disputas entre mulheres para ver quem consegue o melhor partido, se valendo de estratégias bastante duvidosas. Como Teodora Moura, Bia Arantes, que fica rodeando Ian como mosca sobre a merda, fazendo o que for preciso para eliminar a concorrência.

Sr. Albuquerque, personagem de Lucinha Lins, é a típica alcoviteira criando situações para casar a neta, inclusive prejudicar as rivais. Enquanto os homens se apoiam, as mulheres puxam o tapete uma da outra, lamentável.

Perdida nesse passado, Sofia, uma jovem que sonha com o final feliz das narrativas de Jane Austen, que esqueceu que os livros de Austen também relatam a sociedade de sua época, com regras absurdas que impediam mulheres de herdar bens, obrigando-as casarem para não perder a fortuna da família. Época em que casar por amor não era regra, mas, a exceção.

Contudo, a chegada de Sofia, estremece as estruturas de uma sociedade que não estava pronta para as consequências do amor romântico. Aquele que tanto buscamos, porém, não sabemos lidar. Visto que amar é aceitar o outro com suas qualidades e defeitos, só que insistimos em moldar o outro a nossa existência, tentando encaixar numa fantasia romântica que, geralmente, só existe na nossa cabeça.

Todavia, Ian Clark, Bruno Montaleone, entende e aceita Sofia como é, mesmo que isso custe seu futuro numa sociedade com regras rígidas quanto a esposa ideal. Um personagem mais humano e menos egoísta que Mrs. Darcy de Jane Austen, que se refletirmos é bem problemático e cruel em algumas situações.

Enfim, para quem está procurando uma história leve, repleta de romance e clichês que amamos, o filme Perdida, que estreia dia 13 de julho nos cinemas, é o que você está procurando. Uma produção com paisagens de tirar o fôlego e emocionante, apesar das falhas históricas graves, que vou deixar para vocês perceberam quais são.


Ficha técnica

Título: Perdida

Título original: Perdida

País: Brasil

Data de estreia: 13 de julho de 2023

Gênero: Romance

Duração: 115 minutos

Classificação: verificar

Distribuidora: Star Distribution

Direção: Katherine Chediak Putnam e Luiza Shelling Tubaldini

Elenco: Giovanna Grigio, Bruno Montaleone, Nathália Falcão, Bia Arantes, Emira Sophia, Sérgio Malheiros, Luciana Paes, Lucinha Lins e Hélio de La Peña.



Kika Ernane, Karina no RG, e sou multitasking (agora que aprendi o significado do termo segura). Uma mulher como muitas da minha geração, que ainda não descobriram como aproveitar a liberdade que lutaram tanto para conseguir. Muito menos administrar todas as tecnologias disponíveis. Enfim, estou sempre aprendendo.


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