Cinema

Crítica: Bob Marley- One Love - e o poder transformador das canções de Bob Marley

A Cinebiografia Bob Marley - One Love com Kingsley Ben-Adir e Lashana Lynch narra eventos que impactaram a vida de Marley e sua terra a Jamaica


Estreia dia 12 de fevereiro, nos cinemas de todo o Brasil, o filme Bob Marley - One Love, com Kingsley Ben-Adir, como Bob e Lashana Lynch, como sua esposa Rita Marley. Com direção e roteiro de Reinaldo Marcus Green, que teve apoio de Terence Winter no roteiro, narrativa que apresenta o legado de Nesta, como é chamado durante o longa, para as novas gerações.

Sinopse

“Bob Marley: One Love”, filme que contará a história do ícone do reggae, vai mostrar momentos da vida pública e privada do cantor, como o início na música, o atentado a tiros sofrido por ele em 1976 e sua luta em defesa da paz. O filme celebra a vida e a música de um ícone que inspirou gerações através da sua mensagem de amor e união. Pela primeira vez nos cinemas, o público vai descobrir a poderosa história de superação de adversidades e a jornada por trás da sua música revolucionária. A direção do longa é assinada por Reinaldo Marcus Green, que também dirigiu “King Richard: Criando Campeãs”, filme indicado a seis Oscars e vencedor de um. Bob Marley será interpretado pelo ator Kingsley Ben-Adir, que atualmente trabalha na série “Invasão Secreta” e já participou de produções como “Alta Fidelidade”, “Peaky Blinders” e “The OA”. Contracenam com ele nesse novo longa, Lashana Lynch, James Norton, Tosin Cole, Anthony Welsh, Michael Gandolfini, Umi Myers e Nadine Marshall.


Como alguém que cresceu ouvindo Bob Marley, ainda não havia parado para refletir sobre suas canções, foi só enquanto assistia ao filme Bob Marley - One Love que fiz esse exercício, e consegui entender a potência de suas letras, e importância para seu povo. Afinal, para Nesta a música era uma ferramenta de transformação.

Portanto, sabendo do impacto que a música tem, nesta a utilizou como recurso de mobilização, para que seu povo entendesse o contexto político-social que viviam e ter inspiração para lutar por uma vida mais digna, na qual todos acessassem as mesmas oportunidades e existissem com dignidade.


Entendo o contexto histórico da época

One Love é uma cinebiografia que explora uma parte da vida de Bob Marley, se concentrando na metade dos anos 1970, até sua morte prematura em 1981. Mas, como o mundo estava naquele período?

Tivemos o fim do Guerra do Vietnã, em 1975; o continente Africano enfrentava o Apartheid, regime de segregação racial que ocorreu entre 1948 e 1994 na África do Sul; surgimento dos primeiros casos de HIV, em 1977, nos EUA, Haiti e África; e Guerra Fria, que começou em 1947 e terminou em 199; só listando os principais eventos que marcaram a história da humanidade naquele período. Já a Jamaica, sua terra natal, que havia se tornado independente do Reino Unido em 1962, também enfrentava a sua própria Guerra pelo controle do território.

A narrativa é criada a partir desse contexto, apresentar a trajetória de um homem que usou a música para falar sobre o que estava acontecendo em seu país, e fortalecer seus irmãos para seguir lutando por uma existência mais igualitária.

O filme também dá conta de falar um pouco sobre a religião Rastafári, que também está muito presente nas canções de Marley, já que ele era um seguidor e propagador da filosofia Rastafári. Por isso, em muitos momentos a narrativa do filme lembra os filmes cristãos produzidos por Hollywood, que tem uma dinâmica particular. Dito isso, o filme navega entre o musical e narrativas religiosas, com muitas passagens e personagens bíblicos sendo citados ao longo da história.


O que dizer do timing 

Se eu que cresci ouvindo Bob Marley não tinha dimensão de sua grandiosidade como letrista, imagina a geração Z, que, talvez, não teve contato com suas músicas? Sei que o objetivo do filme é justamente esse, fazer com que as novas gerações conheçam a obra de Marley, no entanto, não podemos deixar de comparar o contexto histórico-social daquela época, com o atual.

Estamos vendo conflitos acontecendo em diversos lugares do planeta: Rússia, Palestina, todos os protestos e greve na França, a humanidade tentando se encontrar num mundo pós-COVID. Todas as discussões que a Inteligência Artificial está promovendo, uma vez que estamos vivendo a revolução mais importante desde a industrial. Sem contar que finalmente entramos na Era de Aquário que os hippies tanto divulgaram no período que o filme se passa.

Em resumo, o mundo está tão complicado quanto na época que Marley precisou subir no palco para promover a país em seu país. E ter acesso a todo o legado de Bob Marley possibilita a reflexão necessária para minimizar o impacto de tantos conflitos.


Falando sobre o ser humano Bob Marley

Apesar de toda importância de sua obra, Bob era um ser humano, e como qualquer pessoa errou, e errou feio em alguns momentos. Mas, não é o foco do filme, pois o foco é sua música.

Outro aspecto interessante é que o racismo não é utilizado como elemento narrativo, ele existe, sim, mas não é explorado. Fazendo com que a história se concentre em como Bob Marley enxergava o mundo e como entendia seu papel de artista negro. Dado que, para ele, a música deveria servir para libertar, e não para enriquecer. Além de propagar os conceitos de sua religião, que era focada em criar comunidade, Eu não posso ser Eu sem você; por isso, é Eu e Eu.

Enfim, Bob Marley - One Love é uma cinebiografia impactante, que consegue apresentar para as novas gerações um artista que usou a plataforma que conquistou para causar reflexões, mas que, infelizmente, morreu muito jovem aos 36 anos, deixando um legado enorme e um disco que eleito o mais importante do século XX.


Ficha técnica

Título: Bob Marley: One Love

Título original: Bob Marley: One Love

País: EUA

Data de estreia: 12 de fevereiro de 2024

Gênero: Biografia / Drama / Musical

Duração: 107 minutos

Classificação: 16 anos

Distribuidora: Paramount Pictures

Direção: Reinaldo Marcus Green

Elenco: Kingsley Ben-Adir, Lashana Lynch, James Norton, Umi Myers e Anthony Welsh


Kika Ernane, Karina no RG, e sou multitasking (agora que aprendi o significado do termo segura). Uma mulher como muitas da minha geração, que ainda não descobriram como aproveitar a liberdade que lutaram tanto para conseguir. Muito menos administrar todas as tecnologias disponíveis. Enfim, estou sempre aprendendo.


Disqus
Facebook
Google