Fama, dinheiro, poder: o mundo da indústria do entretenimento parece um sonho. Seus residentes são como deuses, capturando o olhar de todos e vivendo rodeados por luxo. Entretanto, quem chegou lá nem sempre tem histórias boas para contar. Filmes como Crepúsculo dos Deuses (1950), Perfect Blue (1997), Mapas para as Estrelas (2014) e Demônio de Neon (2016) retratam os bastidores do cinema, música e moda como um ambiente doentio e perverso. O mangá Helter Skelter (1995), da “mãe” dos josei Kyoko Okazaki, é uma das aclamadas e pesadas produções criticando essa cultura.
Na história, Lilico é a modelo mais admirada no Japão. As adolescentes a admiram e invejam, os homens a desejam e seu rosto é considerado perfeito. No entanto, nada disso é natural. Para chegar onde chegou, Lilico teve que passar por diversas plásticas que praticamente reconstruíram seu corpo do zero. Quando as cirurgias começam a causar efeitos colaterais dolorosos, a modelo entra em uma espiral de loucura onde todos são inimigos prestes a tirar sua coroa.

O termo helter skelter é o nome de um tipo de tobogã britânico em que uma rampa de madeira é construída em espiral, com uma torre no centro. Pelo movimento circular, ele expressa um sentimento de confusão, desnorteamento, caos. E é isso que define perfeitamente o mangá. Lilico está imersa em um caos, seja pelas suas relações totalmente abusiva e desequilibradas, pelo seu psicológico abalado ou sua carreira decadente. Esta é uma história sobre desequilíbrio e amoralidade.

Se fosse preciso apontar um elemento controverso ou divisor de opiniões sobre o mangá, seria sua arte. Sendo direto: ela é feia. Os personagens possuem uma anatomia estranha, com orelhas e lábios enormes e rostos caricatos. Para quem está acostumado com o traço padrão dos mangás, é bastante estranho. Mas, não é algo que atrapalhe a leitura. Pelo contrário, a loucura de Lilico e o teor grotesco de certas cenas é enfatizado pelo estilo de desenho. Além disso, as várias cenas de nudez e sexo fogem da objetificação justamente pela forma que Okazaki optou por desenhá-las. Também é possível ver um afastamento dos mangás tradicionais e uma aproximação com a estética dos quadrinhos alternativos, como o aclamado My Lesbian Experience With Loneliness.
A edição nacional, publicada pela NewPOP, tem qualidade acima da média, com páginas coloridas e papel sem transparência. Entretanto, como problema decorrente nos produtos da editora, a revisão do texto deixa a desejar. Não é nada que prejudique a experiência com o mangá, mas erros de digitação são algo que desvaloriza o excelente trabalho de Okazaki.
Helter Skelter é um mangá pesado, angustiante e com críticas que permanecem atuais. Sua narrativa focada no psicológico decadente e sua arte fora do padrão podem incomodar parte do público, mas aqueles que gostam de suspense e histórias sobre o mundo abusivo por trás das câmeras da indústria de entretenimento certamente terão um prato cheio.
Ficha Técnica
Título: Helter Skelter
Autor: Kyoko Okazaki
ISBN: 978-85-8362-117-1
Formato: 15 x 21 cm
Páginas: 320 páginas (inclui páginas coloridas)
Acabamento: Off-set 90g – Capa Cartonada
Valor: R$ 24,90
Volumes: Volume Único
Classificação/Faixa-Etária: Recomendado para maiores de 18 anos
Gênero: Terror, Psicológico, Josei