Crítica: Crush à Altura - mais uma comédia romântica onde os estereótipos enfraquecem a mensagem

Crush a Altura da Netflix tentou discutir sobre assuntos atuais, mas falhou ao usar diversos estereótipos que preservam as atitudes abusivas questionadas



A intenção pode ter sido boa, mas Crush à Altura, que está no catálogo da Netflix, é um filme repleto de estereótipos típicos das comédias românticas e romances chick-lit. Tanto que a narrativa lembra alguns clássicos da sessão da tarde escrito por John Hughes. Já que Jodi, Ava Michelle, é uma versão moderna de Molly Ringwald. Isto impossibilitou a reflexão que a narrativa pretendia sobre aceitar as diferenças. 

Sinopse
Após anos lamentando ser tão alta, a adolescente Jodi decide superar suas inseguranças e acaba envolvida em um triângulo amoroso na escola.

Jodi, Ava Michelle, é uma garota muito alta, por isso tem dificuldades de encontrar namorados, além de sofrer bullying no colégio. No entanto, em nenhum momento do filme vemos algum responsável pela escola tentando ajudar a garota. Os insultos e gracinhas dirigidos a jovem eram realizados nos corredores sem que ninguém tivesse medo de represálias. O que deixou claro que não existia um programa de combate ao bullying na escola, nem no filme. 


Precisamos falar sobre bullying

Se a intenção do filme era discutir o tema, isto não aconteceu. O que vimos foi uma garota inteligente e esperta tentando ser invisível, já que Jodi abriu mão de seus talentos para não chamar a atenção. Algo impossível, afinal ela tinha 1,85cm de altura. E pior, a menina refletia a atitude preconceituosa dos demais ao não permitir que seu melhor amigo se tornasse seu namorado, porque ele era baixinho.

O príncipe de terras longínquas que salva a mocinha

Então um belo dia um estudante de intercâmbios enorme, Luke Eisner, com complexo de inferioridade, pois, pasmem, em seu país de origem ele era considerado baixinho, chega para estudar no mesmo colégio de nossa heroína. Sendo apresentado como a solução para os problemas de Jodi. Até quando os filmes vão mostrar homem bonito como soluções para os problemas? Dá até preguiça de tentar argumentar sobre o quanto isso é prejudicial para mentes de seres em desenvolvimento como crianças e adolescentes. Quem sabe um dia eles entendem. 



Eu sei que Crush à Altura é um filme romântico teen, mas se a intenção é modernizar já pode começar por este ponto, por exemplo, mostrar o romance como uma consequência não solução para os problemas. 
Com a chegada do crush do título, a vida de Jodi, que já não era fácil, se torna insuportável. Os ataques à garota se intensificam. 
O pai  de Jodi, Steve Zahan, é um homem que tenta resolver o problema da filha a qualquer custo. Apesar das mancadas é a única pessoa com vontade genuína de ajudar a mocinha e sofre junto com a garota em segredo. Já a mãe, Angela Kinsey, é uma criatura que vive em outra realidade junto com a irmã de Jodi. Uma participante de concursos de Miss que tem umas 3 síndromes não diagnosticadas no mínimo.


Faltou empoderamento

O filme perdeu uma ótima oportunidade de falar sobre o tema, afinal não basta só ter uma mulher empoderada no roteiro para dar um checklist nos itens must have da diversidade, no caso era a melhor amiga que só foi utilizada como escada para a protagonista. 
Já que Jodi era uma menina com mãos grandes, e como foi mostrado na história, isto lhe dava uma vantagem competitiva. Por que não explorar isso? Ensinar que nossos defeitos podem ser ferramentas para conquistar objetivos? 
Se o propósito do filme não fosse discutir sobre bullying e suas consequências seria até bonitinho. Mas como narrativa reflexiva a história é toda errada. Personagens contraditórios, atitudes equivocadas e um final clichê. O filme é um bom exemplo de que nem sempre o que vale é a intenção.



Ficha técnica


Nome: Crush à Altura
Nome original: Tall Girl
País: EUA
Data de estréia: 13 de setembro de 2019
Gênero: Romance, Comédia
Classificação: 14 anos
Duração: 102 minutos
Distribuidora: Netflix
Direção: Nzingha Stewart 
Elenco: Ava Michelle, Sabrina Carpenter, Paris Berelc, Griffin Gluck, Angela Kinsey, Luke Eisner, Steve Zahan, Anjelika Washington e Rico Paris


Kika Ernane, Karina no RG, e sou multitasking (agora que aprendi o significado do termo segura). Uma mulher como muitas da minha geração, que ainda não descobriram como aproveitar a liberdade que lutaram tanto para conseguir. Muito menos administrar todas as tecnologias disponíveis. Enfim, estou sempre aprendendo.


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