Mangás

Ponte aérea #3: Kimetsu no Yaiba, do começo incrível a um final não tão incrível assim...

Vamos falar sobre vampiros, digo, demônios. Quer dizer, Kimetsu no Yaiba (Demon Slayer).



Drácula, escrito por Bram Stoker foi considerada a primeira obra a tratar do mito do vampiro. É claro que, enquanto lenda urbana, os "bebedores de sangue" já existiam e, ao consolidar essa lenda em papel, Bram Stoker popularizou Drácula com fortes inspirações no Conde Vlad Drakul, figura histórica. Usei o tema "vampiro" hoje para introduzir a conversa de hoje da nossa Ponte aérea. Apertem os cintos, e vamos lá!

Kimetsu no Yaiba (ou Demon Slayer, se preferir) não usa exatamente o termo vampiro, e sim demônios. Mas não preciso explicar que a inspiração é justamente a primeira palavra. Os demônios no anime possuem habilidades únicas, mas também uma semelhança com a lenda do vampiro mais famoso do mundo: a ligação de dependência com seu "senhor". Todas as criaturas estão subordinadas, em Kimetsu no Yaiba, ao poderoso Muzan Kibutsuji (ou, se preferir, "Rusbé". Veja o anime ou leia o mangá e vai entender o motivo dessa brincadeira).

´Rusbé Muzan


Assim, a história se passa no Japão, mais precisamente no período Taishō. O nosso protagonista é Tanjirō Kamado, um garoto bondoso que vive em um vilarejo com sua família. Inesperadamente eles são atacados por demônios quando Tanjirō havia saído e a única sobrevivente é sua irmã mais nova, Nezuko. Para complicar um pouco a situação, Nezuko foi transformada em demônio, mas Tanjirō consegue controlar os instintos dela.

Ao serem abordados por Giyuu Tomioka, um caçador de demônios, Tanjirō o convence de não matar sua irmã e o guerreiro o encaminha para um treinamento para que o nosso protagonista possa se tornar um caçador e procurar uma cura, isto é, uma forma de tornar sua irmã mais nova humana novamente.

Essa é, em síntese, a premissa da série. Os pontos mais interessantes começam a partir de agora, com a análise. ATENÇÃO: daqui em diante teremos spoilers e falaremos sobre o final da série. Dado o recado, vamos adiante!

Com o desenrolar do mangá e do anime vamos percebendo a complexa estrutura organizacional dos caçadores de demônios. Há diversos níveis, sendo o maior deles, os Pilares. Eles são as principais defesas contra o Rusbé, digo, o Muzan. Muitos possuem personalidade e visual incríveis, além de histórias passadas bem trabalhadas. Posso dizer que esse é, sem dúvda, um dos pontos mais altos da série.

No anime, que  vai até o final da batalha contra o primeiro grande inimigo, apesar da qualidade de produção, o treinamento em determinado momento é bem cansativo. Digo isso porque, apesar de ser importante entender como funcionam as respirações, penso que toda a parte do treinamento poderia ser mais sintetizada ou, no mínimo, mesclada com algum elemento da trama. Fora isso, o arco contra uma das doze luas é muito bem construído e gera uma ansiedade pela continuidade.

Entretanto, é após o primeiro arco que as coisas começam a desandar. Já mencionei que somos apresentados aos Pilares, os caçadores mais poderosos. Foi dito na série que há toda uma hierarquia para se chegar ao topo, mas a autora não parece muito preocupada com isso porque pouco retorna nessa questão e nosso protagonista não segue muito essa escalada hierárquica.

Em oposição aos Pilares, temos as luas, uma espécie de demônios de elite criado por Muzan para atender seus desejos. As luas são doze no total, sendo seis inferiores e seis superiores. Das inferiores, a única com uma participação significativa (e um arco bem longo) foi a número 6, Rui. Além dele, temos a número 1 que a meu ver teve uma participação que não foi nem um pouco digna do cargo que ocupava. Sobre as demais, todas apareceram rapidamente e foram massacradas pelo próprio Muzan por considerá-las inúteis.

Rui, a Lua Inferior com melhor participação na série


É nas Luas Superiores que mora o grande problema. O visual de cada personagem e fantástico e eles passam aquela vibe badass. Mas, por algum motivo, todos duraram muito pouco porque a partir do momento em que as luas superiores começaram a atuar, o ritmo da série mudou. Tudo aconteceu de maneira muito acelerada. A história parecia estar participando de uma competição de fórmula 1 tentando chegar ao final o mais rápido possível. No meio do caminho, a gente só consegue lembrar vagamente das luas porque no fim o que importa mesmo é a luta contra o Muzan...

O que dizer da batalha final? Ela foi o que se esperava de um shounen com algum "que" de originalidade. Foram longos capítulos contra o chefão final. A participação dos Pilares foi bem interessante, diferente de alguns animes ou mangás em que fica tudo nas mãos do protagonista. A autora soube distribuir bem as funções e soube usar as características de cada personagem para enfraquecer o vilão.

No final esperei um pouco do passado do Muzan e do seu ódio pelos humanos. O que tivemos foram duas páginas sobre seu nascimento e pronto. O personagem aparentava motivações mais complexas, mas no final ele só queria ver a luz do sol sem virar pó mesmo e sempre achou os humanos criaturas medíocres e ponto final.

A autora também ensaia uma  reviravolta no final, quando Muzan transforma nosso protagonista em demônio, mas não tem luta nenhuma. Apenas um conflito interno que faz Tanjirō se apoiar em seus amigos e superar o inimigo egoísta e malvadão. Mais clichê impossível.



No final, a série demonstrou coragem ao mostrar a morte de personagens importantes no caminho, mas seguiu um final meio "Game of Thrones", se é que me entendem. Digo isso porque o fim era bem esperado e nem um pouco empolgante. Fora o estranho e desnecessário capítulo #205.

Kimetsu no Yaiba é uma avião que decolou, enfrentou turbulências e conseguiu estabilizar o voo para um final bem shounen. Sim, eu sei que Demon Slayer é um shounen, mas ele aparentava ter potencial para seguir rumos diferentes e a autora preferiu o final mais confortável.

É isso. Até a próxima!

Escreve para o GeekBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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