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Artigo: Por que Shun na série da Netflix não deveria ter mudado de gênero?

A mudança de gênero do personagem Shun, além de reduzir sua importância na trama ignorou um aspecto importante no desenvolvimento de animes/mangás


O que dizer da versão do Anime Cavaleiros do Zodíaco da Netflix? Simplesmente decepcionada. 

Antes de tudo, sou o tipo de pessoa que aceita mudanças, desde que façam sentido e ajudem a melhorar a história. No entanto, acredito que ao trocar o gênero de Shun, a Netflix acabou com a força do personagem e vou explicar por quê. 

Existem classificações bem específicas para animes e mangas no Japão, os mais conhecidos são o Shonen, para meninos adolescentes, e o Shoujo, para garotas adolescentes. Entretanto, como os japoneses são bons de comércio criam personagens dentro dessas narrativas para atrair outros públicos. Dito isso, é comum encontramos personagens do gênero masculino com características femininas para atrair as garotas. 

Afinal, há alguns anos as famílias costumavam ter uma TV na casa, assim quando o menino queria assistir o desenho de luta a irmã tinha que ver junto, ou procurar outra coisa para fazer. Como os produtores sabiam dessa realidade colocavam personagens estratégicos para que público feminino pudesse se identificar. Na cultura japonesa, ainda, são comportamentos esperados de uma mulher fragilidade e passividade.

Em Cavaleiros do Zodíaco esse personagem era o Shun, considerado um ser andrógino de sexualidade não definida. Existia a dúvida sobre suas tendências e isso era muito legal. Além de tornar a sua história de vida mais significativa. 

Em função de seus gestos mais delicados, Shun era considerado fraco, precisou se esforçar mais que os demais cavaleiros para provar seu valor. Ainda era subestimado o tempo inteiro por não atender os requisitos básicos de um cavaleiro. Cara, isso era amazing, você torcia para ele vencer todas as batalhas e provar que era digno da armadura.


O poder de Shun era sua natureza andrógena 

Quando o gênero foi trocado essa história foi ignorada, pois, se espera que uma mulher seja mais fraca, emotiva e capaz de desistir para não magoar ninguém. Aqui estou falando de estereótipos, não da capacidade feminina que é tema para outro texto. Até a relação com o irmão Ikki perdeu sua potência graça a essa mudança na narrativa.

Segundo Banquete de Platão andrógino é a junção de homem + mulher. Para a biologia é um ser que possui os dois sexos ao mesmo tempo, sendo capaz de ser reproduzir sozinho (todavia, isso não é possível no caso dos seres humanos). Já para a psicologia, se trata de um fenômeno social no qual o indivíduo não apresenta os marcadores de gênero tão definidos. Enfim, essa era a natureza de Shun um personagem que carregava os marcadores de gênero masculino e feminino, um ser ambíguo. Aliás, às vezes não saber é mais interessante que saber. 

Vendo essa nova versão da Netflix sinto falta da tensão que a dúvida causava, dos diálogos que faziam a gente pensar que, talvez, Shun fosse apaixonado por um dos Cavaleiros. Caramba! Eu era criança e percebia isso, por que não permitir que outras tenham a mesma experiência?



Kika Ernane, Karina no RG, e sou multitasking (agora que aprendi o significado do termo segura). Uma mulher como muitas da minha geração, que ainda não descobriram como aproveitar a liberdade que lutaram tanto para conseguir. Muito menos administrar todas as tecnologias disponíveis. Enfim, estou sempre aprendendo.


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