Crítica: Moxie – Quando as Garotas Vão à Luta – um manifesto feminista para adolescentes

Moxie – Quando as Garotas Vão à Luta é um filme da Netflix apresenta pautas que precisam ser discutidas por todos, especialmente no ambiente escolar



Moxie – Quando as Garotas Vão à Luta é um filme, que estreou no catálogo da Netflix em 03 de março. Apesar da temática adolescente, o filme aborda diversas questões que há décadas, senão séculos, são levantadas pelas mulheres. 

No longa, algumas pautas do movimento feminista são apresentadas tendo como pano de fundo o ensino médio. Mostrando que o problema começa desde cedo na vida das meninas. 

Afinal, se nascemos todos iguais, como alguns querem que a gente acredite, então, o que acontece ao longo dos anos para culminar no crescimento assustador do feminicídio e do bullying em nossa sociedade? 

Dito isso, Moxie apresenta um conjunto de hábitos sociais que causam esse abismo entre homens e mulheres. 

Sinopse

Inspirada pelo passado rebelde da mãe e por uma nova amizade, uma adolescente tímida publica um texto anônimo que denuncia o machismo em sua escola.

Moxie (Fonte: divulgação)

Se você ignorar ele para?

Se você é mulher e nunca ouviu essa frase é porque é privilegiada sim.

Quando alguém nos incomoda na escola somos incentivadas a não reclamar, com o argumento de que se o “cretino não tiver palco vai parar”. Entretanto, as coisas não acontecem dessa maneira. 

No meu caso só parou quando eu mandei o cretino tomar no cuscuz dele. Ele ficou tão espantado com minha atitude que pelo resto do ano mudava de caminho quando eu me aproximava. Portanto, têm coisas que só se conquistam na marra.


Lucy Hernandez, Alycia Pascual-Peña, a aluna nova é o típico exemplo dessa realidade, pois, ela deixa bem claro que não vai ignorar as atitudes escrotas do capitão do time de futebol americano Mitchell Wilson, Patrick Schwarzenegger. Por isso, procura a diretora para contar o que vem sofrendo, e nada.

Esbarramos em mais um problema do assédio sofrido pelas garotas na escola, a omissão dos professores, diretores e demais funcionários. Afinal, todos os profissionais que atuam em escolas deveriam ser responsáveis pelo que se sucede no ambiente escolar. Contudo, não é bem isso que acontece e absurdos como o bullying ocorrem frequentemente.

Como alguém que já passou alguns dias em escola pública estadual, realizando estágio obrigatório, vi coisas que me deixaram revoltada e com a certeza de que o problema da escola é tão profundo que nem Paulo Freire seria capaz de solucionar em uma década. Afinal de contas, educação começa em casa com a família.



A questão das minorias

O time mais bem-sucedido do colégio era o de futebol feminino. Mas, o que recebia mais atenção era o de futebol americano. 

Um conjunto repleto de problemas comportamentais e alunos com atitudes inaceitáveis. Que eram premiados anualmente com dinheiro para investir na sua educação. Um verdadeiro tapa na cara da sociedade, que além de incentivar, ainda premia atitudes como as do capitão do time.

Mitchell Wilson se vangloriava de seus privilégios de quem sempre ditou as regras na escola. Tanto que a diretora passava o pano para diversas situações controversas protagonizadas pelo orgulho do colégio. Usando como desculpa a avalanche de burocracia que tomar a atitude correta exige. 

Alguém conta para ela que a burocracia faz parte do cargo que ela aceitou. Além disso, como diretora ela é responsável pela instituição, assim como por garantir a segurança e acesso ao ensino dos alunos.



Usando seus privilégios para ajudar outras mulheres

Quando começou o fanzine Moxie Vivian Carter, Hadley Robinson, não estava preparada para o que viria a seguir, muito menos para as consequências de fazer a coisa certa. Uma vez que, as pessoas que estão confortáveis com as coisas como estão vão fazer o que for preciso para manter o status quo.

Incentivada pela adolescência da mãe Lisa, Amy Poehler, Vivian decidiu tomar uma atitude e convocar as garotas de sua escola à luta. No entanto, sua melhor amiga Claudia, Laure Tsai, é ferida na batalha e Vivian toma consciência de seus privilégios. Algo que, até então, ela nunca havia percebido.

Como Vivian só conheceu a parte legal do passado da mãe, os clubes, as amizades, os fanzines, as palavras de ordem, o elas por elas, entre outras coisas que encontrou no fundo do armário, não foi apresentada ao lado punk da resistência. 

Ocorre que, toda luta tem dois lados, o que deseja a mudança e o que resiste a ela. Logo, a garota percebeu que as coisas não eram tão fáceis quanto pareciam. E que resistir é para poucos.

Confesso que achei o final é um tanto exagerado, pois, dificilmente uma pessoa que passou pelo que Emma, Josephine Langford, sofreu no colégio teria tamanha coragem. Ainda que a gente queira muito, entretanto, ela vive num mundo que culpa as mulheres, ao invés do agressor, por situações como a vivida por Emma.


Enfim, Moxie – Quando as Garotas Vão à Luta é um filme com temas que precisam ser discutidos por todos, especialmente no ambiente escolar. Não é uma história incrível, no entanto, todas as reflexões que levanta são urgentes e pertinentes ao momento que vivemos e toda adolescente deveria assistir.

Também acredito que o Moxie apresenta diversas discussões que deveriam ser levada à sala de aula, com o propósito de educar e reduzir a incidência de assédio e bullying no ambiente escolar. Simplesmente, porque o filme é maravilhoso. Ainda estou impactada com o que vi. Só assistam.



Ficha técnica

Título: Moxie – Quando as Garotas Vão à Luta

Título original: Moxie

País: EUA

Data de estréia: 03 de março de 2021

Gênero: Teen, Comédia, Drama

Classificação: 16 anos

Duração: 111 minutos

Distribuidora: Netflix

Direção: Amy Poehler

Elenco: Hadley Robinson, Lauren Tsai, Patrick Schwarzenegger, Nico Hiraga, Sydney Park, Josephine Langford, Clark Gregg, Josie Totah, Alycia Pascual-Peña, Anjelika Washington, Charlie Hall, Sabrina Haskett, Ike Barinholtz, Amy Poehler e Marcia Gay Harden


Kika Ernane, Karina no RG, e sou multitasking (agora que aprendi o significado do termo segura). Uma mulher como muitas da minha geração, que ainda não descobriram como aproveitar a liberdade que lutaram tanto para conseguir. Muito menos administrar todas as tecnologias disponíveis. Enfim, estou sempre aprendendo.


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