Livros

Resenha: Grande Magia

Na contramão de livros que oferecem dicas sobre escrita, Elizabeth Gilbert nos presenteia com lições importantes para quem ter uma vida criativa

Muitos são os livros que prometem apresentar soluções para viver da arte, principalmente da escrita, afinal, se você quer ser um escritor, saber como escrever é a parte mais importante, certo? Elizabeth Gilbert nos prova que não. Baseado em sua própria vida e nas histórias de pessoas que conheceu durante sua carreira, Grande Magia dá um grande banho de água fria em todas as pessoas que sempre sonharam viver da arte. Mas, ao mesmo tempo, é tudo o que cada uma delas precisa ouvir.


Sinopse:

Ao compartilhar histórias da própria vida, de amigos e das pessoas que sempre a inspiraram, Elizabeth Gilbert reflete sobre o que significa vida criativa. Segundo ela, ser criativo não é apenas se dedicar profissional ou exclusivamente às artes: uma vida criativa é aquela motivada pela curiosidade. Uma vida sem medo, um ato de coragem. A partir de uma perspectiva única, Grande Magia nos mostra como abraçar essa curiosidade e nos entregar àquilo que mais amamos. Escrever um livro, encontrar novas formas de lidar com as partes mais difíceis do trabalho, embarcar de vez em um sonho sempre adiado ou simplesmente acrescentar paixão à vida cotidiana. Com profunda empatia e generosidade, Elizabeth Gilbert oferece poderosos insights sobre a misteriosa natureza da inspiração.

Esqueça todas essas coisas que você acha que precisa ter para ser um artista – tempo, dinheiro, sucesso, um agente, o que seja –, porque nada disso vai fazer com que você, de fato, se torne um. Para você ser um artista, a única coisa que você precisa fazer é arte. Não precisa tirar dela seu sustento e nem ser a única coisa que você vai fazer na vida, porque esses casos são raros e nunca, jamais deveriam ser tomados como o ideal, simplesmente porque é muito provável que não vá acontecer nem comigo e nem com você. E, querendo ou não, está tudo bem, tem que estar, porque se não estiver a gente não vai mais fazer arte.

Essa é, para mim, a grande lição que Elizabeth Gilbert, aclamada autora de Comer, Rezar e Amar, traz em seu livro. Antes de publicar seu best-seller, ela já tinha publicado outros livros, uns que não fizeram tanto sucesso assim. Apesar disso, nunca desistiu da escrita, e a escrita também nunca desistiu dela. Foi por uma combinação de talento, sorte e perseverança que ela conseguiu seu lugar ao sol, mas esse não era exatamente seu objetivo. Óbvio, todo escritor quer ser lido, mas a ideia de virar um best-seller e conseguir tirar seu sustento somente da escrita é tão distante que essa não deveria ser a meta. A meta deveria ser fazer o que a gente faz, seja o que for; sucesso é apenas uma consequência de tudo isso, e muitas vezes ele não vem. Isso, contudo, não pode ser o suficiente para fazer com que você desista da arte, porque se você desistir, qual a razão de tudo?

“Quando decidimos levar vidas criativas, nossa única certeza é a incerteza.”

Em 192 páginas, Gilbert me fez repensar todas as questões que eu tinha com fazer arte. Além de desmistificar toda essa coisa de “viver da arte”, ela aborda a romantização do artista sofredor, a (falta de) importância da sua arte, de onde vem sua criatividade e o que é essa Grande Magia, e cada página vale a pena ser lida, relida e marcada cem milhões de vezes. Porque nós não precisamos nos matar para ser artistas. Não precisamos escrever apenas coisas que trazem uma carga de importância para a humanidade. E nós não precisamos reinventar a roda para sermos criativos.

A Grande Magia é fazer arte por fazer; tê-la como um estilo de vida, e não como uma forma de sustento; continuar a trilhar esse caminho por ser belo, embora não seja fácil. O resultado de tudo isso será mágico, não necessariamente para os outros, mas para você. E, no final, é isso o que importa.

“Talvez nem sempre seja bem-sucedida em minha criatividade, mas o mundo não vai acabar por causa disso. Talvez não possa sempre me sustentar com a escrita, mas isso também não será o fim do mundo, pois há muitas outras maneiras de me sustentar, muitas delas mais fáceis do que escrever livros. E embora seja verdade que as críticas e os fracassos ferem meu precioso ego, o destino das nações não depende do meu precioso ego. (Graças a Deus!) Então vamos tentar aceitar esta realidade: é muito provável que nunca haja em sua vida ou na minha nada que possa ser definido como “uma emergência artística”. Sendo assim, por que não fazer arte?”

Sendo assim, Grande Magia é um livro altamente recomendado para todas as almas que urgem por fazer arte, por viver da criatividade, principalmente para aquelas que sofrem por acharem que a arte deveria estar colocando a comida na mesa ou simplesmente acham que só é possível ser criativo quando se está sofrendo. Elizabeth Gilbert faz um trabalho magistral nos mostrando que a vida artística não é bem como a gente pensa. Uma leitura obrigatória, porque livros de escrita não vão fazer tudo por você – às vezes, nós só precisamos nos lembrar de como viver para entender o verdadeiro significado de fazer arte.

Ficha Técnica


Título: Grande Magia
Título original: Big Magic
Autor: Elizabeth Gilbert
Tradução: Renata Telles
Editora: Objetiva
Edição: 1ª ed., 2015

Estudante de Letras – Português-Inglês na UFMG, mas mora em São Paulo. Amante de arte independente, mas vê tudo o que é mainstream. Assiste a filmes, séries e animes, mas também lê livros e ouve música o dia todo. Diz que quer ser escritora, mas nunca escreveu uma palavra na vida... Quer dizer, só algumas.


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