Cinema

Crítica: Matrix Ressurections e as sequências de trilogias

Matrix Ressurections revisita a trilogia e encontra em si mesma o ponto de partida para uma nova trama.


Acho que nenhum filme foi tão difícil decidir se gostei ou não. Mas o que é fácil sobre Matrix? Nesse novo longa não foi diferente. As questões sobre a sociedade estão de volta e toda a sua complexidade escancarada nos últimos anos também.

Antes de falar sobre o filme, é preciso voltar ao lançamento do primeiro Matrix, lá em 1999 o filme que revolucionou o cinema com técnicas nunca usadas antes e especialmente para as novas tecnologias que estavam surgindo.

Na época eu era só uma criança de 8 ou 9 anos e não entendi o quão profundo era o discurso que as irmãs Wachowski propunham. Mas hoje a história é diferente e até mesmo novas discussões podem aparecer.

Mais de 20 anos depois não temos grandes técnicas novas, mal temos excelentes cenas de ação. Em Matrix Ressurections algumas cenas de ação são confusas, meio como aquela cena com diversos Agentes Smith em Matrix Reloaded.

Não que as cenas de ação sejam ruins, apenas não são o ponto alto do filme. Esse fica por conta do roteiro, que soube trabalhar dentro de si mesmo e trazer uma metalinguagem que compreende seu lugar e ironiza a situação. 

Lana Wachowski, desta vez sem a irmã Lilly, se juntou aos colaboradores de Sense8, os roteiristas David Mitchell e Aleksandar Hemon, e procurou trabalhar em cima da própria trilogia. O filme consegue se autocriticar e enxergar seu lugar na indústria do entretenimento, ao mesmo tempo que questiona isso.

Este é filme com várias camadas, a primeira vista pode ser que você só veja um filme de ação com efeitos visuais nem tão bons quanto o primeiro e piadinhas irônicas sobre filmes 4 de trilogias.

Porém, o novo filme de Lana Wachowski mantém os questionamentos reflexivos e a forma narrativa que pode nos conduzir ou não às respostas, dependendo das suas referências. 

Em mais de um momento o roteiro faz referência à quartos filmes de trilogias. Dentro da trama Neo voltou pra ilusão da Matrix e voltou a ser Thomas Anderson, porém não se recorda de ser o  Escolhido, sendo o excêntrico criador de games revolucionários sobre, é claro, a Matrix. Essa metalinguagem é referida ainda em críticas à falta de originalidade e criatividade que estamos vivendo.

O que faz de Matrix algo especial está ali. As questões existenciais aparecem com força já na primeira sequencia. Talvez para nós brasileiros fique ainda mais complexo quando a reflexão é sobre extremismo. Quando queremos paz e paramos de pensar em "eles" e "nós", isso significa que deixamos de lutar pelo o que acreditamos ou que estamos protegendo quem amamos e fazendo concessões para chegar mais longe como um conjunto?

O filme até chega a responder algumas das questões mais obvias, mas são as mais difíceis que eles deixam no ar e que dão a sensação de que você está levando um tapa na cara para acordar para a realidade. Você deseja acordar ou está feliz como está?

Em uma certa altura da trama Matrix Ressurections também retoma a ideia de amor que conecta, Lana, Mitchell e Hemon já tinham usado esse conceito em Sense8 e agora o colocam em outro nível para mostrar a força que Trinity traz para Neo. 

As atuações são como sempre um item a parte, Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss se completam em cena. A Trinity é vista com um olhar diferente e isso faz com que a atuação de Carrie-Anne se destaque ainda mais e os novos membros do elenco Jonathan Groff, como Smith, e Neil Patrick Harris, como Analista, colaboram para o andamento da história, com atuações que nos fazem acreditar que eles são velhos conhecidos.

O novo Morpheus, Yahya Abdul-Mateen II consegue trazer personalidade ao que descobrimos não ser exatamente a personagem que conhecemos e o que justifica a substituição do ator, também explicada de forma que faz tudo fazer sentido

De todos os atores e atrizes, eu diria que meu destaque é Jessica Henwick como Bugs, uma mistura de discípula com mestre, ela é ótima e merece mais espaço no futuro da franquia.

Provavelmente se você é fã de Matrix não irá gostar


Os dois filmes que vieram depois do original não tiveram o mesmo encanto e genialidade do original. No entanto, dessa vez, a discussão se o filme é bom ou ruim deve ser um pouco mais complexa. Ser bom ou ruim é uma binariedade da qual esse filme não deveria ser submetido.
Porém se você é fã da trilogia, talvez saia do cinema com um gosto amargo na garganta, como se algo que você gosta muito tivesse sido subvertido. E de uma certa forma ele foi.

Ainda é Matrix, a essência está ali. As questões sobre a sociedade estão, o tapa na cara foi dado, mas também tem as piadinhas de quebra de expectativa, o visual John Wick de Reeves e uma cena final que pode não ser a ideal. Ao meu ver não foi.

Ficha técnica


Título: Matrix Ressurections
Título Original: Matrix Ressurections
Ano produção: 2021
Direção: Lana Wachowski
Estreia: 22 de Dezembro de 2021 
Duração: 2h 28m
Classificação:  14 anos
Gênero: Ficção científica/Ação
País de Origem: Estados Unidos da América
Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Neil Patrick Harris, Jada Pinkett Smith, Jessica Henwick, Jonathan Groff

Pesquisadora em Têxtil e Moda; cinéfila; Potterhead e lufana. Adora escrever e dar dicas sobre seus filmes favoritos. Amante de boas histórias e personagens femininas que se impõe. Queria ter os poderes da Jean Grey, mas é apaixonada pela Jasmine. Nas horas vagas escreve sobre seus hobbies.


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