Jornadas Pokémon - O Torneio dos Mestres e ascensão de um Monarca

Entre tropeços, atrasos e pausas, Pokémon consegue entregar uma satisfatória competição e consagrar o título maior ao jovem treinador.


Enfim o evento mais esperado da atual temporada de Pokémon. Restam apenas 8 competidores agora. Dentre eles, 7 Campeões. Representando Kanto e Jotho, Lance. Representando Hoenn, Steven. Representando Sinnoh, Cynthia. Representando Unova, Iris. Representando Kalos, Diantha e Alan. Representando Alola, Ash. E, finalmente, representando Galar, Leon, o Campeão Mundial invicto. Hora de pontuar o que deu certo e o que deixou a desejar.

Campeões... lutem?

Se eu dissesse que o Torneio dos Mestres foi bem-executado, estaria mentindo. Obviamente que isso não irá afetar a experiência dos fãs que acompanham a saga pela Netflix ou por canais de televisão, mas o público japonês e aqueles que acompanham a produção semanalmente, não foi a melhor das experiências.

Acabou que uma série de dificuldades que a equipe da produção teve de enfrentar afetou severamente um dos momentos mais esperados da atual saga, tanto é que um funcionário da OLM, em seu Twitter, alegou que a equipe do anime foi bastante reduzida, provavelmente por causa dos outros animes que o estúdio está produzindo nesse momento.

Isso é perceptível ao analisar o calendário de exibição do arco no Japão. Das 22 semanas de duração da competição, somente 12 episódios realmente focados nela foram exibidos. As pausas, recapitulações e episódios centrados em outros personagens inseridos entre as diferentes fases do Torneio quebravam o ritmo do campeonato. Fazer o espectador esperar 3 semanas para ver as semifinais e a final só prejudicava a imagem do Anipoke diante dos fãs.

Além do mais, rumores apontam que, inicialmente, somente as batalhas do Ash estavam no planejamento inicial da produção e que só decidiram produzir as demais posteriormente, como forma de dar uma chance de demonstrar o estilo de batalha dos demais Campeões. Embora tenha sido uma boa ideia no papel, talvez ela mais atrapalhou do que ajudou. Enfim, vamos ao que interessa.

Quartas de final

Desde que os integrantes do Top 8 foram anunciados em Maio, muito se especulou qual seria o chaveamento da primeira. As possibilidades eram várias, e algumas faziam o coração dos fãs de longa data bater forte, com a esperança de que reparações e promessas feitas em sagas anteriores elas tinham potencial parecido em cumprir al e o coração de fã sempre acaba falando mais alto... Talvez seja por isso que o chaveamento oficial foi recebido com certa curiosidade, mas vamos uma por uma.


Era óbvio que qualquer um que pegasse o Leon na primeira fase ia ser derrotado e usado como trampolim para engrandecer o personagem. Acabou que o escolhido da vez foi o Alan (sinto muito, fãs de XY, não rolou revanche da infame final) e, não só essa batalha só teve metade de um episódio de duração, como ela acabou deixando um gosto amargo na boca. A maneira como Leon basicamente menosprezou e humilhou o Alan e o Mega Charizard X dele foi irreal. Se era para vender ainda mais a imagem de Campeão invicto do personagem, eles não só foram bem sucedidos, como aumentaram ainda mais o meu desgosto pelo personagem.


Diantha vs Lance foi uma agradável surpresa, não só pela chaveamento, e pelo resultado, mas pelo salto de qualidade em relação a Alan vs Leon, algo que era esperado dado as 3 semanas sem episódio que separou as partidas. A utilização de artifícios básicos das batalhas competitivas dos jogos principais da franquia é um movimento bem-vindo, mas é perceptível como só isso não é suficiente. Ver, em vários momentos, os Pokémon de ambos os treinadores simplesmente parados atacando e recebendo ataque, sem evasivas, batalhas aéreas, o dinamismo de movimentação e estratégias "fora-da-casinha" que a animação proporciona, é visualmente chato e narrativamente ilógico.


Iris versus Cynthia... O que antes era uma promessa feita há mais de 10 anos em Black & White se tornou realidade. E, até certo ponto, expectativas foram atendidas. Foi uma batalha sólida, muito bem animada, que soube dosar os artifícios dos jogos e as liberdades criativas da animação e conseguiu convencer o espectador de que a Iris mostrada na tela era digna de estar lá e enfrentar a campeã de Sinnoh sem nenhuma mecânica adicional. Mesmo que a derrota era certa, eu me peguei torcendo pela Iris e acredito que muitos também. E isso acabou valendo muito a pena.


A princípio, Ash vs Steven foi uma surpresa porque o Campeão de Hoenn foi aquele com que o menino de Kanto menos teve contato durante suas aventuras (Até o Alan e a Diantha tem mais história com o Steven), o que acabou se provando uma oportunidade de colocá-los frente a frente, finalmente. Assim como em Iris vs Cynthia, mesmo que o resultado já era esperado, a disputa mantém um nível constante de ataques e estratégias, embora o Ash tenha recebido uma pequena ajuda do roteiro para tal. A propósito, bom saber que a tradição do Pikachu finalizar um Metagross com Cauda de Ferro continua viva.

Uma semifinal e meia

Cynthia versus Ash carregou consigo grandes expectativas, já que era uma batalha que muitos esperavam ter visto em 2010 durante Diamante & Pérola. E o roteiro das três partes tinha quase que uma obrigação em atendê-las, em mostrar a melhor versão de ambos dos campeões e seus parceiros com direito a todas as mecânicas de jogos e liberdades da animação que uma batalha desse porte poderia receber.

Se a Cynthia já havia se mostrado ser uma força da natureza em sua luta contra Iris, esse episódio só reforça porque, independente da mídia, dentre tantos personagens, ela é a favorita de tantos, ao mesmo tempo que é uma verdadeira muralha. Ela não deixava margens para erro. Então o Ash, várias vezes, teve que criar uma oportunidade seguida da outra. 


Esse confronto de estratégias se manteve bastante balanceado até os últimos momentos do confronto final onde Garchomp e Mega Lucario entraram em uma troca de socos e garras. Uma luta corpo-a-corpo bruta e bestial, sem quase qualquer resquício de racionalidade. A única força motriz era o desejo de vitória que cada treinador carregava consigo. Em uma faixa etária maior, provavelmente teria algumas gotas de sangue jorrando pelo estádio. Uma sequência prazerosa de ver. E o Reversal de última hora foi um movimento bem arriscado, diga-se de passagem, mas quem não arrisca, não petisca.

Sinto que estou esquecendo alguma coisa... Ah, lembrei! Agora foi a vez da Diantha ter uma batalha de meio episódio de duração, se bem que a situação da Campeã de Kalos foi até pior porque, quando o capítulo finalmente foca na batalha, só dá tempo de ver as 2 últimas rodadas de uma humilhação porque Leon derrotou os 6 membros do time da Diantha com apenas 2 Pokémon. Os roteiristas devem ter algum rancor de Kalos, não é possível

Uma final sufocante


Como eu comentei no texto anterior, a visita do Ash ao Laboratório do Professor Carvalho um episódio antes do início da competição era um grande sinal de que, assim como em Kalos e Alola, ele não utilizaria nenhum dos seus antigos parceiros. Dentro do anime, era um tiro no escuro justamente porque Leon esteve observando as partidas oficiais do menino Ketchum. 

Fora do anime, essa decisão não tem muito sentido, não por demérito ao atual time do treinador não é forte (ele é muito bom aliás), mas porque, em um momento com esse de uma saga como essa, construída especificamente o personagem e seus fãs, a utilização de seus Pokémon mais fortes e icônicos seria o ápice do fanservice, além de manter um elemento surpresa contra o Leon. Mas não aconteceu (e, talvez, depois dessa, talvez nunca mais).

Falando nele, mesmo com uma construção mediana do personagem, devo admitir que Leon como treinador é uma força a ser reconhecida, já que ele, a todo momento, estava conduzindo o rumo da batalha, praticamente brincando e manipulando seu adversário ao ponto de, com um só Pokémon, conseguir causar dano considerável à maioria do time do Ash. 

Foram apertos seguidos por mais apertos, surpresas atrás de surpresas, ataques em uma constante escalada de poder até culminar no choque entre o G-Max Charizard e Z-Move do Pikachu. Tamanha energia causou um literal buraco no céu a ponto do próprio Eternatus, o Lendário que quase condenou a região de Galar dois anos atrás, teve de intervir para reorganizar o fluxo de energia causado pela combinação de ataques, além de recarregar as pulseiras Dynamax para mais uma rodada.

Um novo monarca

25 anos. 1212 episódios. 23 longa-metragens. 7 quartas-de-final. 4 semifinais. 4 finais (contando a Liga Laranja). Cada batalha. Cada treino. Cada derrota. Cada Insígnia conquista. Cada fim. Cada recomeço. Cada encontro. Cada despedida... Tudo para chegarmos naquele momento. 

A manifestação física da união de sentimentos e lembranças de todos os 77 Pokémon capturados e que já estiveram sob os cuidados de Ash e de todos aqueles que, de alguma forma, acompanharam e presenciaram o crescimento do jovem rapaz como treinador. Amigos, famílias, a Equipe Rocket... 

Uma das sequências animadas mais lindas, bem animadas e alucinadas que o estúdio OLM já produziu para o anime. Algo que poderia muito bem ter saído de uma produção da Shonen Jump. Algo mais que merecido para, enfim, consagrar o maior título

Os humilhados FINALMENTE foram exaltados!

Uma carta de agradecimento em forma de batalha. Remetente? Toda a equipe de produção do anime Pokémon. Destinatário? Todos aqueles que, em algum momento de suas vidas, reservaram um pequeno espaço de tempo para acompanhar Ash, Pikachu e companhia. Não importa se você ainda acompanha ou deixou de lado e só voltou por mera curiosidade. Esse agradecimento é para você.

Um acontecimento tão importante que Shibuya, um dos lugares mais movimentados DO PLANETA, parou para observar. Algo tão grandioso que furou a bolha do entretenimento e se tornou um dos assuntos mais comentados da internet naquela sexta-feira, 11 de Novembro de 2022.

Rumo ao futuro

Embora tenha sido mais que suficiente como episódio individual, ele não compensa todos os problemas que apontei ao longo desse texto. Não há nada de errado em economizar em outros episódios para fazer um encerramento esbelto para uma batalha tão importante para o personagem. Isso é até esperado, mas, se fosse possível, eu aceitaria trocar parte desse espetáculo visual se, com isso, todos os episódios do Torneio, além de serem exibidos sem tantas interrupções, tivessem uma qualidade acima do padrão normal da temporada.

Ainda que eu me alegre bastante com o que foi mostrado até aqui, ainda tenho algumas críticas a pontuar no meu texto final sobre Jornadas Pokémon, o que inclui o desfecho do Projeto Mew e dos trio de protagonistas em si. Agora que a temporada está oficialmente encerrada, a contagem regressiva para a despedida do Ash como protagonista será a próxima etapa antes da saga Scarlet e Violet. 

Faltam 11 episódios.

P.S.: a segunda melhor coisa que aconteceu nesse Torneio
foi essa selfie e só a minha opinião importa.

Escreve para o GeekBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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