O Universo Compartilhado de Stephen King
Desde Carrie, a Estranha (1974), King planta pequenas pistas que ligam seus livros uns aos outros. As cidades fictícias de Castle Rock, Derry e Jerusalem’s Lot são como pontos de energia onde o mal se manifesta repetidamente. Personagens viajam entre obras, eventos são mencionados de passagem e até os monstros parecem vir da mesma fonte: a Torre Negra, eixo central de toda a mitologia kingniana.
A Torre Negra é, literalmente, o coração do multiverso de King. Tudo — de O Iluminado a It: A Coisa — acontece em universos paralelos que se conectam por ela. Criaturas ancestrais, como Pennywise, vêm de dimensões além da compreensão humana, o que faz o terror de King ser tão existencial quanto psicológico.
![]() |
| A Torre Negra é, literalmente, o coração do multiverso de King. |
Derry: A Cidade Onde o Mal Nunca Dorme
Entre todas as cidades criadas por Stephen King, Derry é uma das mais emblemáticas. Localizada no Maine, ela é o palco de It: A Coisa, mas também aparece em Insônia, Sonho de Liberdade e 11/22/63. Em cada uma dessas histórias, há uma sensação constante de corrupção, de algo podre na alma coletiva da cidade.
O mal em Derry não é apenas o Pennywise — é a própria cidade. Ele é uma espécie de catalisador, uma forma assumida pelo “medo” que Derry alimenta há séculos. Isso explica por que seus moradores parecem ignorar tragédias absurdas, assassinatos de crianças e desaparecimentos: a cidade está adormecida sob um feitiço de esquecimento e cumplicidade.
“Bem-Vindo a Derry”: O Passado Que Nunca Morreu
A estréia do momento na HBO, a série “Bem-Vindo a Derry” expande o universo de It e mostra as origens do terror que assombra a cidade. A trama se passa em 1962, décadas antes dos acontecimentos dos filmes dirigidos por Andy Muschietti, e pretende revelar como Pennywise surgiu e por que Derry se tornou um epicentro do mal.
Os irmãos Muschietti, que comandaram os dois filmes recentes (It – A Coisa e It: Capítulo 2), estão de volta como produtores e roteiristas. A expectativa é alta, já que a série irá explorar o lado psicológico e social da cidade, mostrando como o medo coletivo alimenta o próprio monstro.
Mais do que uma prequel, “Bem-Vindo a Derry” tem tudo para se tornar uma peça fundamental do universo expandido de Stephen King, conectando visualmente e narrativamente suas histórias de horror cósmico e existencial.
As Ligações Escondidas
Se você é fã atento, já percebeu os elos invisíveis entre as obras de King:
- O pistoleiro Roland Deschain, de A Torre Negra, enfrenta seres semelhantes a Pennywise.
- A Tartaruga Maturin, que ajuda os “Losers” em It, é uma entidade que também aparece em A Torre Negra.
- O Hotel Overlook, de O Iluminado, é citado indiretamente em outras histórias ligadas ao mesmo universo.
Essas conexões criam uma mitologia complexa, onde o terror não vem só do sobrenatural, mas da própria natureza humana e da eterna luta entre a luz e a escuridão.
Por Que o Universo King Continua Fascinante
O segredo do sucesso de Stephen King está na forma como ele mistura medo e humanidade. Suas criaturas podem ser cósmicas, mas seus personagens são profundamente reais: pessoas comuns enfrentando o inexplicável. E essa é a força do seu universo expandido — ele é um espelho distorcido do nosso mundo.
O multiverso de Stephen King é cheio de cruzamentos dignos de um mapa infernal. Randall Flagg, o vilão de A Dança da Morte e A Torre Negra, é a mesma entidade do mal que aparece sob outros nomes em Os Olhos do Dragão. Dick Hallorann, o cozinheiro médium de O Iluminado, sobrevive ao inferno do Overlook Hotel apenas para reaparecer em It: A Coisa. Já o padre Callahan, de ’Salem’s Lot, viaja entre dimensões até cair no caminho de Roland em A Torre Negra. Esses personagens são os fios invisíveis que ligam cada canto do universo kingniano — onde o sobrenatural é apenas o reflexo do medo humano.
“Bem-Vindo a Derry” chega para reforçar isso: o mal pode assumir muitas formas, mas ele sempre nasce onde há medo, silêncio e culpa. E Derry, mais do que nunca, continua sendo o reflexo sombrio de nós mesmos.





