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Crítica: Pokémon Horizontes - os primeiros 30 episódios

Tudo novo, de novo. Mas, dessa vez, é novo de verdade. Pokémon Horizontes chega com uma proposta ousada para os padrões da franquia, um reb... (por Gian Luca em 07/03/2024, via GeekBlast)


Tudo novo, de novo. Mas, dessa vez, é novo de verdade. Pokémon Horizontes chega com uma proposta ousada para os padrões da franquia, um reboot total. Novas histórias com novos rostos em um ambiente e uma estrutura narrativa familiares com pouca ou qualquer referência ou conexão ao passado. Um novo ponto de partida onde o episódio 1 que realmente é um episódio 1. Mas se os episódios vindos a partir desse começo conseguem ser tão atrativos ou interessantes quanto tantos outros "episódios 1" dos anos anteriores, é isso que irei discutir.

Novos rostos na TV

Liko e Roy. As novas carinhas do anime Pokémon. Opostos, porém complementares. Ambos buscando a grandeza de ser um Treinador Pokémon em suas próprias concepções. Enquanto Roy atribui a um objetivo externo, um Rayquaza preto que surgiu de um presente de seu avô, Liko ainda está em processo de descobrir o que significa ter um parceiro e qual o significado que ela irá dar à palavra treinadora, bem como tudo aquilo que vem no caminho.

Ao parar para pensar um pouco, é como se os roteiristas tivessem colocado a maioria das características marcantes do Ash no Roy, tornando-o um personagem mais "centrado" e "familiar" do que a Liko no início da trama, o que dá mais destaque ao seu arco de desenvolvimento do que seu companheiro. 

【アニポケ】リコとミブリムの出会いは、リコだけの道に繋がっていた | みのりんごの畑

Roy herdou a impulsividade, o afeto, o amor pelas criaturas, o desejo genuíno inocente de ajudar quem aparece ao mesmo tempo que quer mergulhar de cabeça nas coisas, o que deixa espaço para aumentar suas experiências em batalha. E embora tenha herdado seu lado mais introspectivo quanto a estratégias de batalha do menino de Pallet, Liko possui uma falta de tato para relacionamentos, não só com as pessoas, mas também com os Pokémon e consigo mesma quanto o assunto é ser um Treinador. E isso a torna mais interessante de acompanhar. Tanto é que não são raros os momentos em que ouvimos os pensamentos da garota em relação ao que acontece em tela.

Não é nada de novo ou revolucionário, mas também nem precisa ser. A sensação de familiaridade ajuda a aproximar o público das novas crianças ao mesmo tempo que serve como uma base para um desenvolvimento mais orgânico conforme a trama avança, caso o roteiro saiba jogar conforme a música.

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Saudação à tripulação

Seguindo com a mesma estrutura narrativa de Jornadas, Liko e Roy estão viajando o mundo ao invés de estarem apenas em uma região a bordo do Brave Asagi, um barco de pesca modificado para ser um dirigível. A tripulação desse peculiar meio de transporte, chamados de Trovonautas (Rising Volt Tacklers no original), é composto por um professor (Friede), uma doutora (Molly), um confeiteiro (Murdock), sua sobrinha computeira e YouTuber (Dot), uma engenheira (Orio) e um velho pescador apelidado de Vovô. Diferentes pessoas unidas pelo desejo comum de descobrir o que há lá no fora, de ir além de suas velhas rotinas, empregos e vidas. 

Ainda que o título de temporada com maior número de personagens regulares ainda pertença a Sol e Lua, ao considerar que a maioria dos personagens em tela são adultos, Horizontes talvez tenha o elenco mais diferenciado de todo o anime. Embora nem todo o potencial desse elenco é utilizado pelo roteiro devido ao foco maior em Liko, Roy, Friede e Dot, ainda há espaço para o resto do elenco aparecer e também se desenvolver, mesmo que em uma menor escala.

Friede, além de cumprir as três cotas obrigatórias de uma temporada de Pokémon (Professor, treinador de um Pikachu e treinador de um Charizard), é o líder dos Trovonautas e o que mais se coloca em campo e confronto direto em caso de batalhas. Seu temperamento mais leve, impulsivo e descontraído, chegando ao ponto de ser esquecido das coisas importantes, pode lhe dar uma mas são louváveis suas habilidades e conhecimentos como treinador torna tudo mais divertido de acompanhar quando ele está em tela. Lembra certo alguém, né?

Dot é uma das ditas secundárias mais interessantes da temporada. Apesar de sua persona online ser extrovertida, ela é uma pessoa que pode ser considerada como antissocial, já que quase sempre está em seu quarto e só se comunica por meio de mensagens e videochamadas na maioria das vezes. E embora seja possível que algumas pessoas interpretem as tentativas da Liko em incluí-la nas dinâmicas de grupo como insistentes ou invasivas, ainda assim a decisão final é dela e ver a Dot, a partir dessas iniciativas da Liko, ser ainda mais presente, não só dentro do grupo, mais também dentro da trama como personagem e treinadora, é bem interessante de se acompanhar. 

Eu preciso de mais cenas desse trio.

Nem arrastado, nem acelerado, só diferente

Um ponto que está começando a me incomodar um pouco é como a dinâmica de dupla de protagonistas, antes vista em Jornadas Pokémon, é implementada aqui. Enquanto Ash e Goh tinham objetivos bem definidos que ocasionalmente se intercalavam, o que permitia que cada um tivesse seus momentos de destaque, tal elemento narrativo ainda não foi bem ajustado nesse início de Horizontes.

Começamos a série com dois objetivos separados: o pingente para a Liko e a Pokébola Ancestral, bem como o Rayquaza preto que estava adormecido dentro dela, para o Roy. Ao decorrer da temporada, conforme a conexão que existe entre ambos os objetivos é estabelecida e aprofundada, aquilo que eram dois objetivos diferentes se tornou duas estradas para um mesmo destino.

No ritmo atual, por mais que o Rayquaza continue sendo o estímulo para o desenvolvimento do Roy como Treinador, no fim, ele estará sendo mais coadjuvante da história da Liko do que personagem da própria história. Aliás, ele já está começando a ficar um pouco mais apagado pelo roteiro.

Um outro ponto que está começando a me incomodar, ainda que prematuramente nesse momento, é a distância entre os protagonistas e seus objetivos, que aparenta permanecer a mesma com o passar dos episódios. Quando você considera o cenário atual listado abaixo, é razoável se perguntar como o roteiro pretende chegar ao objetivo final da história de maneira natural:

  1. O objetivo final da dupla acaba sendo um Pokémon Lendário e seu treinador;
  2. O caminho para o objetivo final envolve outros Pokémon tão poderosos quanto o lendário;
  3. A equipe de vilões atual é uma ameaça muito acima do nível de Liko e Roy;
  4. Há um número considerável de vezes em que a tripulação, especialmente Friede e Capitão Pikachu, tiveram de lidar com situações de batalha para defender Liko e Roy;
  5. Não há um rival propriamente dito para Liko e Roy, ninguém que ofereça um desafio aceitável ao nível deles, que serviria como estímulo;
  6. Os parceiros dos protagonistas só sabem 3 movimentos e ninguém evoluiu ainda; 

A meu ver, acredito que este seja um problema que será melhor corrigido pela produção em um futuro próximo do que a dinâmica de protagonistas entre Liko e Roy.

Ares renovados

Selo de aprovação do Capitão Pikachu

Considero Pokémon Horizontes um aperfeiçoamento em andamento da fórmula estabelecida em Pokémon Jornadas ao investir ainda mais em sua própria mitologia e no desenvolvimento de seus personagens sem se esquecer de seu público-alvo e de seu objetivo como produto de mídia. Ou seja, se preparem porque vai ter filler sim.

Para aqueles que esperavam um rompimento maior, talvez até completo, com os quase 27 anos de história do Anipoke, você vai acabar se decepcionando. Mas para aqueles que já conhecem a estrutura da série e queriam ver uma nova história com um ritmo diferente e novos protagonistas em um ambiente que passa uma sensação familiar, pode encontrar um sensação aconchegante em Horizontes e até se surpreender com algumas mudanças, tanto negativa, como, principalmente, positivas.


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