Crítica - Digimon Universe: Appli Monsters

Temporada de 2016 tenta modernizar a franquia e buscar uma identidade própria, mas existem muitos glitches em seu código


Até mês passado, devido a um estado de emergência declarado no Japão por causa da pandemia, várias produções estavam suspensas, entre elas o reboot de Digimon Adventure. Nesse meio tempo, para não perder o ânimo com a franquia, resolvi assistir a Digimon Universe - Appmon, temporada que foi exibida entre 2016 e 2017 que busca identidade própria ao tentar modernizar a trama enquanto mantém aquilo que define uma série dos monstros digitais.

Bem-vindo ao futuro

Appmon tem uma premissa dentro do padrão ao acompanhar as aventuras de um grupo de crianças em 2045 (Haru, o altruísta - Rei, o quase anti-social - Eri, a carismática e Torajiro, o extrovertido) escolhidas por uma força maior para portarem os Digivices, aqui chamados de Appli Drivers, coletar e usar os Appmon, inteligências artificiais presente em cada aplicativo de smartphone, na luta contra Leviathan, uma maléfica inteligência artificial que se esconde nos confins da Dark Web e quer submeter os humanos à sua vontade, mas de uma maneira peculiar. 

A inteligência artificial que quer dominar o mundo recebeu um tratamento bem cuidadoso em sua construção. Suas origens, seu nível de influência no mundo, o gradual aumento do nível de seus ataques, os obstáculos, além dos Appli Drivers, que impediam que ele já tivesse conquistado seu objetivo, tudo foi escrito de maneira que fosse crível dentro do universo da série e dou destaque a uma cena no penúltimo episódio que consegue dar uma aceitável justificativa à certas conveniências que o roteiro usou para fazer a história progredir.

Conheça seu elenco principal (da esquerda para a direita):
Offmon, Haru, Gatchmon, Yujin, Eri, Dokamon, Torajiro,
Musimon, Rei, Hackmon e Ai.

Erro de atualização


Infelizmente, o mesmo não pode ser dito a todos os protagonistas. O quarteto inicial passa a série inteira preso a seus respectivos estereótipos e, embora cada um tenha motivação e objetivo em mente, uns mais pessoais que outros, o tratamento não é igualitário. Rei tem a motivação mais pessoal e suas aparições, ainda que poucas, dão fôlego à história, sendo ele o agente que move a trama central. 

As jornadas de Eri e Torajiro já são mais simples, mas não deixam de ser cativantes. Porém, mesmo com tempos dela parecidos, a jornada pessoal da garota é feita de maneira mais orgânica e consegue fazer pontuais avanços no arco principal, enquanto a dele fica mais como uma promessa não cumprida, algo que tinha potencial, mas que não teve o mesmo carinho que precisava.

Por último, Haru, embora se diga protagonista, muitas vezes é coadjuvante de sua própria história. Ele é o mais preso a seu estereótipo e o roteiro só dá algo que realmente coloca seu altruísmo à prova somente na segunda metade da série. Até mesmo Yujin, seu melhor amigo de infância, depois que passa de secundário a co-protagonista, consegue ser mais interessante que o Haru, não só pelo mistério que o cerca, como por ter um carisma natural que o dito "protagonista" demora para ter.

Deseja desinstalar?

Creio que grande parte desses descuidos pode ser atribuída à grande quantidade de episódios. Com 52 capítulos para preencher, é claro que teríamos a presença de episódios "monstros da semana" e não há nada de errado em usar esse formato, mas sua quantidade e distribuição, comparando com os episódios “mitológicos”, é desproporcional.

Digimon Universe - Appmon deixa a sensação de ser um spin-off. Ele que quer ser Appmon, mas que não quer deixar de ser Digimon e, nessa disputa de rumos a tomar, a sensação de potencial desperdiçado é muito presente. É possível sim ter um bom tempo com ele e o final certamente é recompensador, mas o caminho até ele pode ser tortuoso.

Desculpa gente, mas só estou sendo sincero.
Gostei de vocês, mas nem tanto.

Escreve para o GeekBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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