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Resenha: Sua Alteza Real

O segundo volume da série Royals conta a história de outra garota que conquistou um membro da realeza, mas, dessa vez, uma princesa


Escrito por Rachel Hawkins, o segundo volume da série Royals traz ainda mais clichês que amamos: princesas, intrigas, inimigas que viram amigas que viram algo a mais e declarações públicas de amor. 

Embora seja uma “continuação”, o livro pode ser lido independente do primeiro, uma vez que traz protagonistas e focos narrativos diferentes. Apesar disso, a (pelo menos por enquanto) duologia sofre do mal de livros que têm continuação e, na minha opinião, não entrega uma história tão forte quanto a primeira – ou talvez a edição brasileira tenha estragado minha experiência com a leitura; é difícil dizer ao certo o quanto foi culpa de quê.

Sinopse:

Millie Quint fica arrasada quando descobre que sua meio-que-melhor-amiga/meio-que-namorada tem beijado outra pessoa. De coração partido e pronta para uma mudança de vida, ela decide levar adiante o sonho de estudar em terras escocesas. Quando consegue uma bolsa em um dos colégios mais exclusivos do mundo, Millie mal consegue acreditar. Apaixonada por tudo o que é relacionado a geologia, ela vê na rochosa Escócia o lugar perfeito para começar uma nova fase de sua vida.
O único problema é sua colega de quarto, Flora, que age como uma princesinha mimada. Claro, ela é uma princesa de verdade. No começo, as duas não se suportam – Flora é tanto esnobe quanto expert em se meter em confusões – mas, quando Millie se dá conta, ela tem outra meio-que-melhor-amiga/ meio-que-namorada. A princesa Flora pode até ser um novo capítulo em sua vida amorosa, mas Millie não quer ser coadjuvante na história de ninguém. As chances de um “felizes para sempre” podem ser poucas, mas isso não significa que elas não existam…
Sua Alteza Real faz parte da série Royals, que começou com Como sobreviver à realeza, mas os livros podem ser lidos separadamente.

Diferente de Como sobreviver à realezaSua Alteza Real não é narrado por Daisy, e, embora ela apareça no livro, não é nem de longe uma das personagens mais importantes da história. Aqui, conhecemos Amelia “Millie” Quint, uma jovem estadunidense que está prestes a começar o último ano do Ensino Médio e é obcecada pela Escócia. Não pela realeza – ela mal sabe quem eles são –, pelas rochas e pela história do lugar. Por isso, a garota se inscreveu para o colégio Gregorstoun, um dos melhores do mundo, localizado nas Terras Altas da Escócia. Por ser mega inteligente, ela é aceita. Há apenas um problema: Millie está terrivelmente apaixonada por sua melhor amiga, Jude, com quem ela tem passado o verão sendo um pouco mais do que amiga. Como ela poderia ir?!

Quando o ex-namorado de Jude entra em cena, porém, Millie se vê de coração partido e nada mais a segura no Texas. Assim, com seu pai, ela vai atrás de realizar seu sonho e conseguir uma bolsa de estudos, e, quando a afirmativa chega, ela vai para a Escócia com todas as despesas pagas.

Gregorstoun era famosa por educar membros da realeza há mais de um século, e Millie sabia disso, mas nunca imaginou que sua colega de quarto seria uma princesa –  muito menos que elas se dariam tão mal.  A princípio, a relação de Millie e Flora não é nada boa, mas, com a convivência ao longo dos meses, Millie começa a perceber que quartzos rosas não são apenas lindos por fora: eles podem ser ainda mais brilhantes por dentro.


Minha experiência com Sua Alteza Real

Quando terminei Como sobreviver à realeza, não esperei uma hora sequer para começar Sua Alteza Real, e a comparação entre os dois livros, além de inevitável, me deu um choque. 

Mesmo sendo continuações, algumas coisas fizeram com que a leitura do segundo volume se tornasse um pouco desastrosa para mim durante os primeiros capítulos: a expectativa de humor, a diferença na narrativa, a mudança de personagens e a tradução.

Para início de conversa, Daisy e Millie são completa e absolutamente diferentes. Enquanto Daisy é debochada e não segura a língua nem por um instante, Millie prefere evitar brigas e sempre fica na sua, engole o que quer que a digam e é sempre uma Boa Garota™. 

Sendo assim, o primeiro livro é infinitamente mais o meu estilo de humor do que o segundo, e se a Daisy me fez rir alto o tempo todo, a Millie me fez pensar “era pra isso ter graça?” até mais da metade do livro, quando eu de fato passei a achar algumas cenas mais divertidas.

Em relação à narrativa, acho que o outro livro tinha um pouco mais de qualidades do que esse aqui, era mais bem-humorado e trazia mais reviravoltas interessantes a cada final de capítulo. A história se passa em um colégio interno, mas isso não impede visitas a palácios e jantares reais. Ainda assim, traz uma vibe muito diferente da que eu estava esperando. E o final, apesar de fofo, não me deixou tão animada quanto o do volume anterior.

Além disso, tirando Jude, as novas personagens são legais, principalmente Sakshi, que carrega todo o humor que funciona no livro; todavia, elas parecem um tanto quanto caricatas em alguns aspectos, menos espontâneas e realistas do que em Como sobreviver à realeza

Também senti uma falta da presença da família de Millie, que tem um papel importante nas primeiras páginas, mas logo depois desaparece. Por mais que a construção de algumas personagens tenha sido boa, achei que essa continuação tornou outras um pouco diferentes do que foi mostrado no livro anterior, inclusive Seb, Miles Montgomery e a própria Daisy. Isso, de fato, foi um pouco decepcionante.


Entretanto, acredito que boa parte das minhas percepções que mencionei anteriormente têm uma única vilã: a tradução. A mudança de tradutores em uma série de livros é algo que pode vir para o bem ou para o mal, e nesse caso foi a segunda opção. Infelizmente, o trabalho de Vic Vieira não alcançou as expectativas que eu tinha para com esse livro, e muitas coisas me acabaram me incomodando. Alguns exemplos disso são: “cabelo ordinário” para ordinary hair (“cabelo comum”); “Ano 13” para Grade 13 (“último ano do Ensino Médio”); a falta de localização na tradução; e não ter conseguido trazer para o português o estilo de escrita da autora.

Demorou mais da metade do livro para eu conseguir relevar erros como esses, e acredito que por isso minha experiência com Sua Alteza Real não foi tão boa quanto poderia ter sido. Apesar disso, a história de Millie e Flora é muito fofa e também é recheada de clichês românticos. Para mim, o ponto alto foi a relação das duas, como elas aprenderam a conviver uma com a outra, e eu não via a hora de aparecer um beijão na cena.

Em relação ao projeto gráfico, a edição da Alt ficou tão boa quanto a de Como sobreviver à realeza, com o mesmo estilo de fonte, espaçamento, capa e afins. O que falhou mesmo foi o mais importante: todo o resto – uma ironia, não?! A tradução/preparação/revisão não tornou o livro ilegível, e quem não se importa com essas coisas pode mergulhar de olhos fechados, mas os mais atentos com toda a certeza vão se irritar com pelo menos algum dos processos malfeitos. As próximas edições bem que poderiam corrigir isso, porque os livros da Rachel Hawkins são uma fofura e definitivamente valem a pena, inclusive esse.

No mais, Sua Alteza Real é um livro de romance adolescente fofo com personagens sáficas em papel de protagonismo. Mesmo não sendo melhor do que o primeiro, essa continuação da série Royals está quase no mesmo nível de seu antecessor, e poderia até mesmo alcançá-lo se a editora tivesse se preocupado mais em fazer uma boa tradução, preparação e revisão. Para os amantes de princesas e histórias de amor, apesar dos pesares, vale totalmente a pena.

Ficha Técnica


Título: Sua Alteza Real
Título original: Her Royal Highness
Autor: Rachel Hawkins
Tradução: Vic Vieira
Editora: Alt
Edição: 1ª ed., 2020

Estudante de Letras – Português-Inglês na UFMG, mas mora em São Paulo. Amante de arte independente, mas vê tudo o que é mainstream. Assiste a filmes, séries e animes, mas também lê livros e ouve música o dia todo. Diz que quer ser escritora, mas nunca escreveu uma palavra na vida... Quer dizer, só algumas.


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