Séries & TV

Crítica: Power Rangers Dino Fury - 1ª Temporada

Mesmo com alguns deslizes, temporada consegue seus triunfos enquanto prepara o palco para um grandioso segundo ato.


O dia havia começado como qualquer outro em Pine Ridge. Ao chegar no BuzzBlast, o conglomerado de mídia onde trabalha, deparar-se com sua chefe Jane e usar de muita lábia para conseguir sua aprovação, Amelia Jones se dirige ao Dinohenge, um monumento natural da cidade composto por 6 estátuas de dinossauros, para fazer uma matéria acreditando que o local é assombrado.

Lá, ela conhece Ollie Akana e sua mãe, a arqueóloga Dra. Lani Akana, que estão no local para fazer análises das estátuas. E o que começou com uma simples dia de trabalho terminou com o aparecimento de um misterioso ser vestindo uma armadura chamado Void Knight, a libertação dos Sporix, criaturas capazes de dizimar planetas que estavam seladas há 65 milhões de anos, o despertar de um cavaleiro alienígena adormecido e o surgimento de uma novo time de heróis usando spandex. Bem-vindos a Power Rangers Dino Fury.

A era dos dinossauros

Um dos principais pontos a se destacar em Dino Fury é como seu roteiro tende a gravitar ao redor de Zayto (Vermelho), Amelia (Rosa) e Ollie (Azul). Obviamente, isso já era esperado porque os três Rangers são a formação inicial da equipe e, indiretamente, dão o pontapé inicial aos eventos da temporada, mas isso continua ao longo dos 22 episódios que fazem parte desse primeiro ano, mesmo com a chegada de Izzy (Verde) e Javi (Preto).

Sem querer dar muitos spoilers, ambos já realizaram ações que, dado o histórico, não só de Power Rangers, mas também das séries japonesas Super Sentai, eram reservadas, geralmente, ao Vermelho e/ou um ou outro Ranger especial (dourado, prateado etc). E grande parte dos eventos centrais da temporada ocorrem em capítulos cujo foco principal é um dos integrantes desse trio. 
Da esquerda para a direita: Ollie, Javi, Amelia, Izzy e Zayto.

Isso sem contar que a Amelia possui um passado que envolve "circunstâncias misteriosas" e o avô que trabalhou no local que agora serve como esconderijo do Void Knight, algo que espero que seja mais aprofundado neste 2º ano. E que mãe do Ollie, mesmo sendo uma personagem secundária, esteve envolvida intimamente em alguns dos eventos-chave da temporada. E que o status atual de Rafkon, planeta natal de Zayto, é uma incógnita constante ao longo da temporada.

Para não ser injusto, Javi e Izzy possuem seus momentos ao longo da temporada. É notável como o roteiro consegue escrever a dinâmica entre os irmãos de maneira natural e a relação deles com o pai, inclusive o favoritismo dele para/com a Ranger Verde. Pois é, Izzy é a primeira mulher da série de TV a usar a cor verde. E agora um momento para admirar a sequência de morfagem. O simples fato de ter uma cena deles treinando para acertar a "coreografia" é um detalhe tão simples e bobo, mas ao mesmo tempo, quase nunca levado em consideração.


Infelizmente, do lado dos vilões, Void Knight não tem a presença, o carisma, a ameaça que você espera de um vilão de temporada, sem falar da quase completa falta de informações a seu respeito. O máximo que o roteiro informa ao público é seu objetivo mais íntimo de utilizar os Sporix como fonte de energia para uma máquina. Provavelmente, essa decisão tenha sido proposital para o vilão ser melhor aprofundado e, talvez, render alguns plot twists no segundo ano, como alguns rumores indicam, mas ele não estará sozinho.

Em um movimento ousado dos roteiristas, um dos maiores vilões da franquia está de volta e a própria equipe tem noção do quanto ele é icônico para os fãs que eles dedicaram parte do episódio somente para informar à equipe e, por consequência, relembrar/introduzir ao público, o quão poderoso ele é e o nível do sacrifício necessário para por um fim nele. Para deixar o destino deste personagem aberto, a equipe de produção deve ter grandes planos para ele no futuro. Torço para que tais planos estejam à altura de tal vilão.

Desculpa Void. Não é você, sou eu...
... e você também, por enquanto.

Em frente e atrás das câmeras

Entrando em aspectos mais técnicos da produção, o novo showrunner da série, Simon Bennet, em entrevistas para promover a temporada, enfatizou como eles queriam inserir o humor de forma mais orgânica dentro da dinâmica de Rangers, vilões e personagens secundários, se distanciando das cópias de Bulk e Skull que foram apresentadas ao longo dos últimos 10 anos.

Posso afirmar que é um trabalho em progresso, mas que ainda precisa de melhorias, não só porque aqui ainda há a presença de uma dupla de personagens somente para fins cômicos, mas como, em muitas ocasiões, o riso não vinha da situação em si, mas de uma vergonha alheia que surgia ao ver tais cenas. Talvez seja porque a faixa etária que a série deseja atingir é a segunda infância (4 a 7 anos). Ironicamente, as cenas que me arrancaram um riso foram aquelas onde eles não estavam tentando forçar uma piada garganta abaixo.

Fãs: Por favor, sem mais duplas cômicas.
Hasbro: confia ;-)

Um detalhe que me chamou a atenção é que, em comparação com Beast Morphers, a equipe anterior de Rangers, é notável o maior uso de cenas da contraparte japonesa de Dino Fury, a série Kishiryu Sentai Ryusoulger, não somente nas batalhas de Megazord, como nas batalhas normais. 

Acredito que seja porque, na série Super Sentai, as chamadas Chaves de Batalha, power-ups que concebem habilidades adicionais aos heróis (aumento de velocidade, chicote, bomba de fedor...), são muito utilizadas (tanto é que a série é batizada com o nome oriental delas: Ryusoul) e muito bem feitas, até. Ainda quero assistir o material original para poder traçar alguns paralelos com Power Rangers na futura crítica da segunda temporada, então me cobrem.

Representação visual de um Ranger após usar uma Chave de Batalha.

Rumo ao futuro

Outro aspecto da produção que também esteve presente e causou certo incômodo aos fãs na última década foi a presença de lições de moral em grande parte dos episódios, seja através de diálogos mais expositivos, seja através de atitudes questionáveis dos personagens. Infelizmente, isso ainda está presente em alguns dos episódios. Acredito que tenha sido algo forçado pelos executivos da Nickelodeon, que transmite a série nos EUA, para atender à faixa etária da produção.

Se foi isso ou não, talvez nunca saberemos, mas como o contrato com a emissora encerrou-se em 2021 e não foi renovado, conforme havia sido anunciado Novembro passado pelo portal americano Deadline, Power Rangers será um exclusivo da Netflix e ganhará, além da série principal, um novo universo, com novas séries, filmes e programas infantis, supervisionado pelo produtor e diretor Jonathan Entwistle (I am not okay wiyh this, The End of the F******* World) (Por favor, Hasbro, eu só peço por uma série animada de PR. Eu tô pedindo demais?).

Power Rangers Dino Fury encerra seu primeiro ano com saldo positivo por saber utilizar bem algumas das coisas que deram certo em Beast Morphers, como um elenco carismático de protagonistas que possuem potencial para desenvolvimento, lutas que possuem seu charme e criatividade, mesmo não saindo do padrão PR, e um carinho pelo passado e pelo presente da franquia com referências bem integradas ao arco geral da temporada. Se eles pecaram um pouco no vilão, eles ainda tem mais uma chance para corrigir isso. E que venham mais 22 episódios!

Eu digo isso praticamente para toda equipe, mas gente, eu amo um elenco.

Escreve para o GeekBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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