Crítica: Com uma 3ª parte bem construída, Trollhunters encerra uma incrível jornada

"Nunca esqueça que o medo é o precursor da coragem e que buscar e triunfar diante do medo é o verdadeiro significado de ser um herói."


2016. Caçadores de Trolls chega à Netflix. Aos olhos de muitos, poderia ser apenas mais uma série animada no oceano de títulos do serviço de streaming sobre aventuras épicas com um garoto desajustado e um grupo de amigos e criaturas mágicas. Mas eu olhava para a produção da Dreamworks com Guilhermo Del Toro de uma forma que não olhava para qualquer outra série animada. Talvez pensasse que era algo especial, mágico até. Agora, 2 anos depois, eu tenho certeza disso.


O que vem do outro lado


Numa recapitulação rápida, com um Mercado Troll tomado por Gunmar e companhia, todos os Trolls fugitivos vivendo em Arcadia Oaks (não confundir com Arcadia Bay do jogo Life is Strange) sob a liderança de Blinky depois de um Vendal morto revelar que a rainha Ursuna, que a gente achava que tava no nosso lado durante quase duas temporadas inteiras, tá metida no lado errado.

Geral todinha tá atrás do despertar da vilã da temporada Morgana e seu encantamento Noite Eterna que, como o próprio nome já diz, gera uma noite eterna, que facilita E MUITO os planos do Gunmar de dominação global já que, como quem assistiu, no mínimo, o piloto sabe, trolls viram pedra sob a luz do dia (e outras armas mais). Tenho que dizer que esperava mais épico vindo da Morgana. Talvez tenha sido apenas uma questão de expectativas não atingidas.

Em paralelo, meio que sem sentido, a terceira parte da série animada seria o equivalente à segunda metade de Lost (temporadas 4, 5 e 6). A sensação de aquele realmente é o caminho para o fim. De que, daqui pra frente, tudo será diferente. Porém, ao contrário da série da ABC, arcos narrativos que serviram como cliffhangers e foram abordados nos 2 episódios iniciais da temporada e praticamente não possuem continuidade.

Por exemplo, colocar Claire possuída por Morgana, Steve e Eli como parte da equipe principal, a reconstrução da vida dos trolls fugitivos do Mercado que agora vivem às escondidas na cidade. Tudo isso é abordado, utilizado e concluído nos 5 primeiros episódios da temporada. Caso bem escritos, grande parte desses arcos poderiam ter durado ainda mais, ter sido mais abordados ao longo dos episódios para culminar tudo no series finale.

O que realmente importa


Por outro lado, foi até bom eles terminarem esses arcos. Eles poderiam tomar um tempo de tela significativo da segunda metade, que começa com o ótimo episódio 6, Orientação Parental. Colocar o trio de protagonistas contra os próprios pais quanto à verdade foi a melhor decisão feita quanto ao roteiro. Criar um grupo secundário de protagonistas que não atrasam a trama principal foi uma ótima jogada, além de dar mais importância à presença da Barbara Lake, a mãe do Jim. Se não fosse por tudo isso, a cena final não teria sido tão "Um tiro doeria menos" quanto ela foi.

Barbara, eu escolhi te amar S2

Mas nada poderia nos preparar para o que viria nos 4 brilhantes episódios finais. Disparadamente, eles estão entre os melhores, se não forem os melhores, episódios da série inteira. É praticamente uma ofensa representá-los aqui como meros parágrafos quando cada um deles merece um texto separado. Talvez eu até faça isso depois, com mais calma.

Vamos de uma guerra civil sobre abordagens e alianças, junto a uma sequência de luta incrível entre Jim e Merlin e, sem sombra de dúvidas, a decisão mais difícil a ser tomada por qualquer um do episódio 10, Uma Casa Dividida à tiraria de Morgana, a batalha épica que realmente faz parecer que aquilo é o fim do mundo como o conhecemos, o que realmente significa trabalho em equipe e a já comentada cena final que quebra o coração de qualquer um no 12 e 13, A Noite Eterna - Partes 1 e 2 (Sério, eu tô sem palavras para dizer o quanto o final foi dramático e triste).

Mas também devemos passar por essa joia chamado episódio 11, Caçadores de Jim. É o crescimento emocional necessário dadas as circunstâncias que você não vê muito em mídias de heróis. Cara, o Jim se tornou um híbrido de humano com troll. Ele não é inteiramente humano, não é inteiramente troll e nem é considerado um mutante porque eles transitam entre humanos inteiros e trolls inteiros.

Esse choque entre duas realidades é perfeitamente normal e ter um episódio para lidarmos com o que isso significa para o grupo total de protagonistas é totalmente justificável. Ele não pode ir para escola. Nem um jantar com a própria mãe ele tem mais direito porque comida humana é horrível para trolls. É compreensível que ele queira afastar todos devido a essa mudança, mas só porque você está em uma nova vida, você não tem que deixar as pessoas de sua antiga vida de fora. É cliché? Sim, mas a execução que importa. Faz o momento ser algo lindo. Algo que beira o real. Algo realmente mágico.

O que abre um sorriso


Nem mesmo na metade final, onde a seriedade, obrigatoriamente, é o tom certo da série, eles deixaram de serem engraçados com coisas simples ou caminhos que seriam mais puxados para clichés. Sério, eu ri com uma piada envolvendo uma porta de garagem. UMA. PORTA. DE. GARAGEM. Foi algo tão besta, mas que me deu um sorriso tão bobo na cara. Isso é mágico.

Dublagem brasileira fez um ótimo trabalho de adaptação e as vozes casaram tão bem que não daria para ser alguém. Charles Emmanuel realmente convenceu como Jimmy Lake Jr. Ele deu o tom certo de um inocente com responsabilidades de dois mundos. Acho que a experiência ajudou muito.
Fora que piadas que envolvem costumes da população americana, embora sejam poucas, foram muito bem adaptadas para o Brasil."Dá pra mandar um zap?" MORTO e ENTERRADO.

O que existe depois


Bem, com o universo estendido, ainda teremos mais duas séries para lidarmos. A que estreia ainda nesse ano, 3 Below, teve um backdoor pilot/pseudo-filler nesse temporada com o episódio 9, Em Boas Mãos. Enquanto a trama principal, aparentemente, não andou, porque a explicação para o que eles fazem só veio no anteriormente citado brilhante episódio 10, Aja e Krel se provaram como bons protagonistas.

Você não pode negar que eles têm carisma e presença sob o cliché de pessoas de outro lugar/tempo/etc se adaptando à nova realidade, mas só o tempo dirá se esse carisma todo será suficiente para manter uma série. Ah, e umas referências/easter eggs/participações de personagens da "série-mãe" na "série-filha" são muito bem-vindas, obrigado.

Enquanto esperamos, nós, como fãs, ficamos com a expectativa de que o que virá a seguir manterá a mesma qualidade de Caçadores De Trolls. Mas eu tenho confiança de que teremos algo que respeite o telespectador que ficou os últimos 3 anos acompanhando essa obra de arte em tantos sentidos. Se você não assistiu a isso, meu querido, você está perdendo uma experiência incrível.


Por uma última vez: "Pela glória de Merlin, a luz do dia está sob meu comando!"
Fui.

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