Livros

Resenha: Sheets

Uma história sobre perda que pode renovar as esperanças de toda uma geração


Escrito e desenhado por Brenna Thummler, Sheets é uma história em quadrinhos como nunca se viu. Com apenas 240 páginas, o livro aborda diversos temas, dentre eles morte, luto, bullying, ganância, trapaça e força para combater todas essas coisas. 

Infelizmente, já faz alguns anos desde o seu lançamento e ainda não há previsão para chegar ao Brasil, mas aos que se arriscam pelo menos um pouco no inglês, esta é uma ótima recomendação.
Sinopse:

Marjorie Glatt feels like a ghost. A practical thirteen-year-old in charge of the family laundry business, her daily routine features unforgiving customers, unbearable P.E. classes, and the fastidious Mr. Saubertuck who is committed to destroying everything she's worked for. Wendell is a ghost. A boy who lost his life much too young, his daily routine features ineffective death therapy, a sheet-dependent identity, and a dangerous need to seek purpose in the forbidden human world. When their worlds collide, Marjorie is confronted by unexplainable disasters as Wendell transforms Glatt's Laundry into his midnight playground, appearing as a mere sheet during the day. While Wendell attempts to create a new afterlife for himself, he unknowingly sabotages the life that Marjorie is struggling to maintain.
Sheets illustrates the determination of a young girl to fight, even when all parts of her world seem to be conspiring against her. It proves that second chances are possible whether life feels over or life is over. But above all, it is a story of the forgiveness and unlikely friendship that can only transpire inside a haunted laundromat.

Aos treze anos, Marjorie já tem mais responsabilidades do que alguém normalmente conseguiria aguentar. Após a morte de sua mãe, seu pai entrou em estado de luto e parou de fazer tudo o que deveria. 

Por isso, agora Marj, além de ir para a escola, precisa cuidar de seu irmão, checar como está seu pai e conduzir os negócios da mãe: uma lavanderia que está prestes a “falir” – ou pelo menos é isso o que o sr. Saubertuck quer que ela acredite.

Ao mesmo tempo, no mundo dos fantasmas, Wendell se sente deslocado. Diferente da maioria das outras pessoas, ele é uma criança que não sabe como morreu. Devastado por esse sentimento de não se sentir parte de lugar algum, ele percorre o caminho até o mundo dos humanos, onde encontra um lugar muito divertido para brincar – sim, a bendita lavanderia.


Sem querer, Wendell começa a bagunçar as coisas e coloca Marj em uma situação ainda mais difícil, porque as roupas de seus clientes nem sempre ficam limpas, e se não há clientes, como pagar as contas?

Sua única alternativa seria vender o empreendimento de sua mãe para o sr. Saubertuck, mas Marjorie não quer dar o braço a torcer. Mesmo não gostando de fantasmas, ela se aproxima de Wendell e, com a ajuda dele – e de algumas outras pessoas, como seu professor de Educação Física –, entra numa luta para recuperar não somente a lavanderia, mas também sua felicidade.

Ouvi falar de Sheets pela primeira vez na época que lançou, através de um vídeo da booktuber canadense Ariel Bissett; desde então, não sosseguei até tê-lo em mãos. O arco da história contada por Thummler é ligeiramente simples, e o que a torna interessante são os detalhes, tanto no quesito desenho quanto na questão narrativa.

Os desenhos têm traços marcantes e cores que flutuam entre serem muito fortes, acinzentadas e pastéis. As personagens humanas não têm o tipo de beleza padrão, cada uma é desenhada de uma forma, e o fato de serem tão diferentes umas das outras também as torna mais realistas. E embora todos esses detalhes sejam lindos à vista, quem rouba a cena é Wendell e seus amigos fantasmas. 

Diferente de muitas leituras mais atuais de fantasmas, que tornam a pessoa mais acinzentada ou coisa do tipo, a autora decidiu brincar com a ideia do fantasma que parece um lençol (em inglês, sheet), e isso deu muito certo. Além de ter todo o trocadilho com o título e a lavanderia ser um tipo de playground, os fantasmas são extremamente fofos, e dá vontade de entrar dentro do livro só para abraçar o Wendell e dizer que vai ficar tudo bem.


Por se tratar de um quadrinho infantojuvenil, muitos jovens e adultos podem pensar que sua narrativa é besta e desinteressante, mas não. Sheets traz uma história de superação e desenvolvimento que pode ser aquele livro de conforto quando você está passando por momentos ruins. Acompanhar a amizade da Marjorie e do Wendell e como isso impacta a vida dos dois é emocionante e revigorante. Eu te garanto, você vai se apaixonar.

A versão do livro em inglês tem uma qualidade maravilhosa. Ao contrário dos comuns paperbacks, a terceira impressão da editora Caracal é brochura, como a maioria dos livros no Brasil – ou seja, tem orelha –, e é coberta por fantasmas por dentro. Não há informações a respeito do tipo de papel utilizado, mas tem uma gramatura alta, portanto as páginas são mais grossas do que em livros normais, e os desenhos têm uma ótima qualidade.

Sheets tem um final por si só, todavia sua continuação, Delicates, foi lançada em março deste ano, e algumas críticas internacionais indicam que há menos fantasmas, mas o impacto emocional é ainda mais forte. Até então, nenhuma editora brasileira deu indícios de querer publicar nenhuma das obras de Thummler. Caso queira ler em inglês, não é necessário ter um inglês muito avançado, e pode ser um bom começo para os que querem treinar a leitura na língua.

Por fim, Sheets é um quadrinho extraordinário sobre luto, força, amizade e amor, capaz de tocar dos corações mais jovens aos mais cansados. Espero que nos próximos anos ele tenha uma tradução para o português, porque em tempos difíceis como esses, em que estamos perdendo tantos ao nosso redor, um pouco de esperança não faria mal – muito pelo contrário. Uma dose de Sheets, para nós, faria toda a diferença.

Ficha Técnica


Título: Sheets
Língua: Inglês
Autor: Brenna Thummler
Editora: Caracal
Edição: 1ª ed., 2018

Estudante de Letras – Português-Inglês na UFMG, mas mora em São Paulo. Amante de arte independente, mas vê tudo o que é mainstream. Assiste a filmes, séries e animes, mas também lê livros e ouve música o dia todo. Diz que quer ser escritora, mas nunca escreveu uma palavra na vida... Quer dizer, só algumas.


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