Os co-CEOs da Netflix, Greg Peters e Ted Sarandos, classificaram a aquisição pendente dos ativos da Warner Bros. Discovery por US$ 83 bilhões como “uma vitória para a indústria do entretenimento”. A declaração veio em um memorando interno enviado aos funcionários e protocolado junto à SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos.
O mercado financeiro, porém, não aplaudiu de pé.
Desde que o interesse da Netflix na Warner se tornou público — e, principalmente, após o anúncio formal da proposta — as ações da Netflix acumulam queda de cerca de 10%, sinal claro de que Wall Street ainda não comprou essa ideia.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira, Robert Fishman, analista da MoffettNathanson, aconselhou a Netflix a não entrar em uma guerra de lances, especialmente se a Paramount decidir elevar sua proposta hostil.
Segundo Fishman, o melhor caminho para a Netflix seria simples e cirúrgico:
“Desistir da disputa, manter o foco e continuar executando o plano que a empresa já tem.”
A preocupação central é financeira. A Paramount já colocou na mesa uma oferta estimada em US$ 108 bilhões, incluindo assunção de dívidas, para adquirir toda a Warner Bros. Discovery — enquanto a Netflix tenta comprar apenas os ativos ligados ao estúdio e ao streaming.
Na visão do mercado, o acordo é muito mais vital para a Paramount do que para a Netflix. Isso aumenta a pressão para que a empresa eleve ainda mais sua oferta, especialmente porque conta com o apoio financeiro de Larry Ellison, cofundador da Oracle e um dos homens mais ricos do planeta.
Fishman projeta que a Paramount pode subir sua proposta atual, estimada em US$ 30 por ação, para algo entre US$ 33 e US$ 35, dependendo do quão agressiva a Netflix estiver disposta a ser.
O risco? Um golpe direto no balanço da Netflix caso ela vença a disputa pagando caro demais.
Um cenário alternativo preocupa — e muito — o setor.
Uma entidade combinada Paramount + Warner Bros. Discovery seria, segundo Fishman, “uma concorrente formidável no streaming”, com escala próxima à Disney e à Amazon, ainda que distante da Netflix. Além disso, haveria amplo espaço para redução de custos em redes de TV a cabo e entretenimento filmado.
No memorando, os executivos da Netflix tentam acalmar funcionários, reguladores e o mercado:
- Dizem esperar aprovação regulatória, alegando que a participação da Netflix nos EUA subiria apenas de 8% para 9%, ainda atrás do YouTube e de uma possível fusão Paramount-Warner.
- Garantem que os lançamentos nos cinemas continuarão, preservando o legado da Warner Bros.
- Negam que o acordo represente “o fim de Hollywood”.
“Vemos isso como uma vitória para a indústria do entretenimento, não o seu fim”, afirmam.
Segundo eles, não haverá fechamento de estúdios nem sobreposição de funções, e a união serviria para fortalecer empregos e a produção audiovisual.
O processo deve se estender ao longo de 2026, com equipes dedicadas cuidando da transação enquanto o restante da Netflix segue focado no crescimento orgânico do negócio.
Por enquanto, a novela continua. Hollywood observa. Wall Street calcula. E o mercado espera o próximo lance.
Fonte: Deadline



